Alunas:
Vanessa Almeida Stigert e Thayane Viana Fonseca
Este
trabalho trará um breve resumo do texto “Gênero e educação: teoria e política”,
que faz parte das atividades e discussões realizadas em sala de aula por meio da
disciplina de “Tópicos especiais: Gênero, Sexualidade e Educação”, ministrada
pelo professor Roney Polato de Castro no curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Juiz de Fora. Assim, nosso resumo abordará questões sobre início dos
movimentos feministas e o surgimento do conceito de gênero e seus desdobramentos
teóricos e políticos, todos destacados no texto resumido.
Meyer
iniciou seu texto discutindo uma notícia de um jornal de uma pesquisa realizada
nos Estados Unidos. A pesquisa trazia a seguinte manchete “Mudanças sociais
alimentam a obesidade”, na qual o resultado informava que as mudanças na
estrutura do mercado de trabalho tinham total ligação com o grande aumento da
obesidade no país. A notícia destacava que os americanos passaram a comer mais
em fast
food devido o fato do grande número de mulheres trabalhando fora de casa, o
que fez com que elas deixassem de preparar as refeições caseiras.
A
partir da leitura dessa notícia por algumas pessoas, a autora destacou dois
tipos de reações dos leitores: primeiro que umas acharam a notícia irrelevante
e com um tema óbvio para ser considerada resultado de uma pesquisa. O outro
tipo de reação foi por parte de umas militantes e feministas na qual diziam que
além de todas as relações de poder, a mídia pretende culpar as mulheres pelo
aumento da obesidade. Após ler a notícia e ver as diferentes reações, a autora
destacou duas questões relevantes:
“...a temática e, sobretudo, as
conclusões do estudo, sintetizadas no artigo para cosumo do público em geral,
seriam mesmo irrelevantes e inofensivas, considerando-se o arsenal de
conhecimentos já gerados pelo campo dos estudos feministas e as conquistas
legais asseguradas em decorrência de lutas desses movimentos sociais? Ou pelo
contrário, conclusões ‘científicas’ como essa provocam tão pouco estranhamento
porque ainda estamos muito familiarizados com o pressuposto de que o ‘lugar
natural da mulher é o lar e sua função natural é cuidar da casa e s da família’
que nem conseguimos enxergar o ‘ineditismo’ ou a ‘relevância’ que justificariam
a publicação de estudos com esse teor, com o destaque que lhe foi conferido?”
(MEYER, 2003, p.10)
Diante dessas questões a autora traçou uma relação entre
a notícia e o tema que abordou em seu texto. Defendeu, principalmente, que
mesmo o que é cientifico, não deve ser considerado como uma única verdade
existente. Desse jeito, devemos nos transformar em seres questionadores, assim
podemos evitar naturalizações, como o que ocorreu com a matéria do jornal que Meyer explicitou.
Na
história do Brasil tivemos vários tipos de movimento feministas, com diversos
objetivos, o primeiro foi em 1890 com a Proclamação da República onde as
mulheres lutaram pelo direito do voto feminino. Um segundo momento histórico
dos movimentos feministas aconteceu entre os anos 60 e 70 em oposição a
ditadura militar e lutaram também pela necessidade de se investir em produção
de conhecimento, com o desenvolvimento sistemático de estudos que pesquisassem
a subordinação social e a invisibilidade política que as mulheres tinham sido
obrigadas. Esses movimentos fizeram com que houvesse confrontos com grupos que defendiam
as diferenças e desigualdades entre homens e mulheres, colocando a diferença
biológica para explicar esses pensamentos. A partir disso, surgiu o termo
gênero nos movimentos feministas e nessas perspectivas esse conceito referia-se
ao “comportamento, atitudes ou traços de personalidade que a cultura inscrevia
sobre o corpo sexuado” (MEYER, 2003, p. 15). Mais tarde o conceito foi
reformulado pelas feministas pós-estruturalistas, que problematizaram questões
como corpo, sexo e sexualidade.
Após
fazer um breve histórico da utilização e conceituação do termo gênero, Dagmar
Estermann Meyer mencionou que seu trabalho e concepção acerca do gênero está
baseado nos fundamentos teóricos de Michel Foucalt e Jaques Derrida. Assim, a
autora evidenciou que possui uma abordagem centrada na linguagem sobre a
discussão do gênero. Nesse sentido, a linguagem estaria “como lócus de produção
das relações que a cultura estabelece entre corpo, sujeito, conhecimento e
poder” (MEYER, 2003, p.16).
As
abordagens femininistas pós-estruturalistas utilizadas pela autora se
distanciam das outras abordagens existentes que afirmam existir diferenças apenas
biológicas entre os homens e mulheres. Em contrapartida, a autora vai ao
encontro das abordagens pós-estruturalistas que mencionam que as diferenças
existentes entre os homens e as mulheres devem ser feitas através de relações
socioculturais, linguísticas e de poder e não restritamente nos aspectos
biológicos.
A partir disso, Meyer (2003) afirma que há uma
transformação de concepção do gênero. Logo, o gênero passa a ser visto de
acordo com as diferentes formas “de
construção social, cultural e linguística” (p. 16). Nesse contexto, o
conceito de gênero não fica mais atrelado apenas à conceituação biológica, mas
passa a ser considerado em seus aspectos mais abrangentes. Ou seja, leva em
consideração as relações sociais, culturais, políticas, simbólicas, normativas
e, sobretudo de poder.
Diante dessa opção conceitual a autora expõe quatro
implicações do uso do termo gênero e sua suposta ferramenta teórica política. A
primeira delas se refere ao fato de que é a partir do acesso individual do ser
humano ao mundo que cada ser humano irá se tornar homem ou mulher. Ou seja,
esse processo de constituição não é imposto e muito menos linear, sendo que
esse processo é constante. A segunda implicação estaria voltada a
impossibilidade de definição da feminilidade e masculinidade, sendo que tais
definições não são naturalizadas, pois dependem de questões culturais e
conflitantes da/na sociedade. Cabe ressaltar que a autora concebe a “cultura
como sendo um campo de luta e contestação em que se produzem sentidos múltiplos
e nem sempre convergentes de masculinidade e feminilidade [...]” (MEYER, 2003,
p.17).
A terceira implicação das mudanças sociais e políticas
postas pela discussão do gênero traz para o cenário a necessidade de ir além da
problemática da conceituação do termo. Portanto, é importante debater quais as
relações de poder existentes entre homens e mulheres e, consequentemente a
partir disso observar e problematizar as novas constituições de gênero. Por
fim, a conceituação de gênero deve estar longe das generalizações e
naturalizações feitas sobre o ser masculino e feminino. É interessante afirmar
que a autora menciona que, tais implicações e discussões não se direcionam para
a desconsideração dos corpos sexuados. Porém, levando esse fato em consideração
existe uma necessidade de ir além do que tais aspectos já nos remetem. Ir além
desse fato é perceber que por volta dessa estatística existem linguagens,
relações de poder, culturas e diferenças sociais que interferem nesse processo
de constituição.
Dagmar Estermann Meyer, após fazer algumas considerações
sobre o gênero e sua constituição explicitou sua preocupação com o tema, que é
inserido no campo da educação. A autora fez no texto dois exercícios
problematizando a questão do gênero. A primeira problemática está voltada à
“avaliação do rendimento ou da aprendizagem escolar” (MEYER, 2003, p.20).
Relacionada à primeira problemática levantada pela autora estão também algumas
estatísticas que demonstram diferenças entre homens e mulheres. Fora isso, a
autora expõe dados alarmantes sobre outras singularidades de raça, classe
social e outros aspectos que são constatados em estatísticas, mas que por algum
motivo acabam sendo dados estagnados nas/pelas instituições educacionais.
A
partir desses aspectos Dagmar se indaga sobre quais os pressupostos de
feminilidade e masculinidade estariam sendo perpetuadas no interior das
escolas. É verdade que a escola não pode ser vista como a solução das
diferenças colocadas entre homens e mulheres. Assim, como também não dá conta
de solucionar todos os problemas sociais e culturais que certamente chegam até
ela. Porém, a instituição de ensino pode ser um local onde esses temas e
problemas são discutidos para que posteriormente novas políticas públicas sejam
planejadas e executadas e é exatamente isso que deve vir a acontecer.
A autora explicita que a (des)naturalização do olhar para
a discussão das diferenças e constituição do gênero deveria ser um trabalho
continuo e precoce que inclusive integrasse a escola. Acontece que, segundo a
autora, existem “pedagogias culturais” que consistem na ampliação do conceito
de educação e “pretende englobar forças e processos que incluem a família e a
escolarização” (MEYER, 2003, p. 22). É curioso ressaltar que a sociedade
precisa ir além do que essas pedagogias nos propõe, sendo que temos na
sociedade outros meios de constituição conceitual, como, a mídia, os meios de
comunicação e outros. Com isso, a autora faz um paralelo da questão que aborda
em seu texto e as observações necessárias que todos devem fazer ao ter acesso a
um meio de comunicação.
Portanto,
a população precisa estar atenta às concepções e opções políticas que cada
material pretende expor e defender. Esse é um dos meios de caminharmos em
direção as mudanças de padronizações já existentes. Isso significa que apenas
com um olhar crítico e com o auxilio da linguagem teremos a possibilidade de
conseguirmos identificar e/ou construir novas identidades e gêneros.
REFERÊNCIA
GOELLNER, Silvana
Vilodre; LOURO, Guacira Lopes; NECKEL, Jane Felipe (orgs.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate
contemporâneo na educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.