Relatos 1 2013



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Registro da aula do dia 19 de agosto de 2013

Textos: 
FELIPE,  Jane. Erotização dos corpos infantis. In.: LOURO, Guacira Lopes; NECKEL, Jane Filipe; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo. Vozes.

FELIPE, Jane. Entre batons, esmaltes e fantasias. In.: MEYER, Dagmar; SOARES, Rosângela F. Rodrigues (Org.). Corpo , Gênero e sexualidade. Porto Alegre. Mediação.

Texto apresentado por: Carla e Taliene

Enquanto as alunas preparavam o Datashow para a apresentação, o Professor Roney falou sobre a produção textual, a entrega dos diários de bordo e a avaliação da disciplina, que deverão ocorrer na próxima aula, esclarecendo às alunas e ao aluno sobre esses eventos.

As alunas começaram a apresentação trazendo duas imagens para representarem a infância no século XVIII e a infância no século XXI, uma vez que o texto trás uma discussão sobre concepções de infância ao longo dos tempos. A partir daí discutem sobre a erotização dos corpos infantis na atualidade, a partir do contato destas com o mundo adulto, seja através das novas tecnologias ou dos meios de comunicação, propiciando-se que discursos sobre pureza e ingenuidades infantis, paradoxalmente, convivam com a erotização desses corpos. Discutem ainda que os corpos femininos e masculinos têm sido percebidos e valorizados de formas diversas, observando-se uma maior e mais acentuada erotização dos corpos femininos até então.

As alunas trazem a discussão sobre os corpos serem o abrigo de nossas identidades. É no corpo e sobre os corpos que as identidades são construídas. Sendo assim discutem sobre a construção das identidades femininas ressaltando o apelo que se tem feito, sobre estes corpos, no sentido de se tornarem alvo de intervenções cirúrgicas, uma vez que há o apelo para que sejam esculpidos, fabricados e produzidos, se tornando o centro das aliciações e fetiches de consumo.

Pensando na escola e na infância, as alunas ressaltam que as preocupações com o culto ao corpo têm atingido inclusive, e cada vez mais, não apenas mulheres adultas, mas também crianças e adolescentes, sobretudo, meninas. As alunas trouxeram um fragmento do texto que ilustra esta preocupação, no qual uma criança de 6 anos pede à mãe para comer apenas alface para não engordar e um outro trecho, no qual uma criança de 2 anos diz à mãe que não quer colocar a blusa para não parecer gorda. Estas questões pareceram incomodar a turma de um modo geral, uma vez que percebemos que esse culto ao corpo tem “adoecido” até mesmo as crianças, afetando a sua autoimagem. Algumas alunas comentaram entre si sobre como sofriam com o julgamento dos outros quando foram “gordinhas” durante a infância.

Para ilustrar essa discussão as alunas trouxeram uma imagem do filme “Pequena Miss Sunshine” na qual a atriz principal está entre meninas altamente produzidas, como “adultas em miniatura”, com muita maquiagem, cabelos super produzidos e roupas que dizem do mundo adulto. A menina, no entanto se coloca de forma mais natural, sem muita produção e feliz com sua autoimagem. Interessante foi a colocação de Taliene, ela relata que antes de fazer a disciplina, quando via essas produções de pequenas misses, achava tudo lindo, achava muito bonitinho aquelas crianças com performances de adultas, no entanto,  a partir da disciplina passou a problematizar essas produções de corpos. As alunas trouxeram para a aula os bastidores desses concursos de miss, nos quais as mães parecem se importar mais com o concurso do que as próprias crianças, inclusive uma das alunas disse ter observado que várias mães dessas crianças apresentavam-se como pessoas fora desse padrão hegemônico de beleza, sendo gordinhas e pouco bonitas para esses padrões. Essa aluna problematizou inclusive que elas poderiam estar impondo às filhas um ideal de beleza que elas gostariam de ter. 

As alunas prosseguem relatando que o texto discute as propagandas veiculadas pelos meios de comunicação, que são direcionadas ao público infantil feminino. Essas propagandas além de vender brinquedos “de meninas”, vendem também maquiagens, roupas, calçados, perfumes dentre outros produtos que parecem reafirmar a beleza e a vaidade como um atributo natural das mulheres. As alunas exibiram um mix de várias propagandas para ilustrar essa questão, as propagandas vendiam sandálias, celulares, brinquedos, alimentos (que eram acompanhados de brindes) e sempre chamando a atenção para a beleza e o charme das meninas.

As alunas trouxeram também uma propaganda de uma grife de roupas infantis com uma menina vestindo as roupas dessa grife, impecavelmente limpa e arrumada, mas com o rosto lambuzado e com uma pose sensual, abaixo a frase “Use  e se lambuze”. As alunas discutiram o duplo sentido que poderia ter a frase; a criança poderia usar e se lambuzar ou poderia ter um apelo de pedofilização da infância podendo indicar um “usar e se lambuzar” em relação à criança. O certo é que a propaganda realmente me incomodou... Com a referida imagem as alunas queriam discutir que as crianças passaram a ser vistas como pequenos consumidores e ao mesmo tempo e cada vez, como algo a ser desejado e exaltado, o que pode ser entendido como uma pedofilização da infância.

As alunas recorrem ao texto de Jane Filipe para discutir o termo “Pedofilia”, resgatando o seu significado dicionarizado e a construção do termo ao longo da história, indo inclusive ao significado desse termo na Grécia antiga. As alunas ressaltaram que a tentativa de dessexualizar as crianças é um fenômeno ressente na história ocidental, sendo que, até bem pouco tempo, nos tempos de nossas avós e bisavós, os casamentos se davam com meninas de 13, 14 anos.

Com relação a essa discussão, Roney fala sobre projetos de vida. Segundo ele até bem pouco tempo, para uma grande parte das mulheres, o projeto de vida possível era casar e ter filhos. As mulheres eram criadas para o lar e, já que não se tinha outro projeto possível, parecia querer alcançar o mais rápido possível esse projeto. Com as mudanças na sociedade outros projetos possíveis foram se colocando ou foram conquistados pelas mulheres, permitindo que essas pudessem se dedicar a esses projetos, o que as direcionou para o adiamento do casamento e da gravidez, ou até mesmo colocando esses projetos como não necessariamente um projeto a ser almejado por todas as mulheres.

Segundo o texto trabalhado, a partir do século XIX foram criados saberes e leis para garantir a proteção e o bem estar das crianças. Na atualidade uma das maiores preocupações em relação a sexualidade é a pornografia infantil, a prostituição, o estupro e o incesto.

Discutindo a questão da pedofilização da infância, as alunas trazem os paradoxos da sociedade atual, uma vez que a mesma sociedade que condena a pedofilia sensualiza os corpos infantis.

Roney levanta outro paradoxo: há pessoas que condenam uma mulher amamentar em público, mas não vê nada demais em um outdoor com mulheres seminuas. O professor aproveita para problematizar o termo “prostituição infantil” uma vez que muitas crianças são obrigadas a esta situação, nesse sentido prefere o uso político e crítico dos termos “Exploração Sexual Infantil” ou “Violência Sexual”. 

Continuando a discussão sobre a pedofilização, as alunas ressaltaram que não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, arrecadasse milhões com o turismo sexual infantil. Diante dessa problemática, o que se quer destacar é o investimento que se faz para a erotização dos corpos infantis e da pedofilização como uma prática construída na sociedade de consumo. O que se busca é desconstruir a pedofilia como uma natureza ou essência que conduza a essa prática. As alunas exibiram um vídeo intitulado “Erotização Infantil” e um filme que traz músicas com letras e coreografias que traduzem e incitam a erotização dos corpos.

Após a apresentação dos vídeos as discussões se deram sobre como as músicas e coreografias chegam até as crianças. As crianças não estarão imunes a esses artefatos, o que nos direciona a pensar que as crianças não são essas “tábula rasas” que chegam a escola sem conhecimento de mundo, elas são sujeitos e se subjetivam frente a cultura que está aí. Como disse uma aluna, não se é possível colocar a criança em uma “bolha”, portanto, conceber a criança como “inocente”, “assexuada” é no mínimo uma falta de percepção dessa criança como sujeito que se constrói frente às experiências que vivencia. As alunas dizem que essas discussões devem ser problematizadas e discutidas na escola. Andressa acredita que disciplinas como a T. E. Gênero, Sexualidade e Educação deveria ser uma disciplina obrigatória, uma vez que as questões de gênero e sexualidade estão presentes na escola e exigem atitudes e práticas consistentes por parte dos profissionais que lá atuam.

As alunas passam a discutir o segundo texto da aula: “Entre batons, esmaltes e fantasias”. Para tanto trazem uma imagem para cada cena apresentada no texto e abrem para a discussão com a turma:
Cena 1: Tornar-se menino – nessa cena é relatado um episódio de construção do cantinho da fantasia em uma creche, em que uma das professoras envolvidas levanta a questão: os meninos também poderão usar as maquiagens?

Cena 2: Meninos sob suspeita -  nessa cena discuti-se o caso de um menino que gostava de se vestir com  vestido roxo e que por isso era “apelidado” pela professora de “Juninha”.

Cena 3: Como as crianças pensam as masculinidades e as feminilidades. Nessa cena uma professora problematiza o uso do banheiro.

Cena 4: Famílias em pânico – relata um caso de uma professora que ao trabalhar com o livro “Meninos brincam de Boneca” é questionada por uma mãe uma vez que falou em “pênis” e “vagina” durante essa aula.

As alunas e o aluno discutiram as cenas se reportando a atividade da aula passada, descobrindo semelhanças trazidas pela autora e as discussões já travadas em sala.

Com o adiantar da hora as alunas encerraram as discussões ficando de enviar um último vídeo que iriam passar para que o Roney disponibilize-o no blog da disciplina. O vídeo tratava-se de uma entrevista sobre relações de gênero e sexualidade elaborado pela Revista Nova Escola.

Na segunda parte da aula o professor Roney apresentou vários livros que abordavam as questões de gênero e sexualidade. Roney fala sobre cada livro e os distribui para que as alunas os foliem e os conheçam. Após este primeiro contato com os livros o professor lê para as alunas o livro “Mamãe botou um ovo”. As alunas pareceram interessadas no livro, acompanharam a leitura com bastante atenção fazendo alguns comentários, no entanto quando perguntadas sobre o que acharam do livro, disseram que ele era “interessante”, “muito legal”, “fofo”, mas se mostraram receosas em desenvolver um trabalho com ele na escola. Disseram que o livro não tem nada de mais, mas que dependendo da escola (principalmente se esta for particular), elas poderiam enfrentar problemas com a temática. Há toda uma discussão sobre embasar o teoricamente o próprio trabalho. Ressaltaram que as resistências sempre existirão e que o importante é acreditar e construir argumentos fortes para defender o trabalho que se quer desenvolver.

Roney retomou a aula passada, na qual ele pediu para que as alunas elaborassem argumentos para pensar e justificar a importância da Educação para a Sexualidade na escola. As discussões começaram timidamente, mas alguns argumentos foram levantados como por exemplo, que pensar em sexualidade não é pensar em discutir práticas sexuais e sim pensar em sexualidade de forma mais ampla; que discutir sexualidade não vai incentivar práticas sexuais precocemente, mas sim discutir a sexualidade que é expressa e que entra em contato com as crianças através das mídias, das músicas e de seu cotidiano; outro argumento seria de que as crianças têm direito a conhecer o próprio corpo e suas sensações; que com a discussão da sexualidade poder-se-ia discutir a ideia de privacidade e de defesa dessa privacidade; pode-se usar também o argumento da transversalidade do tema (inclusive uma aluna defendeu que disciplinas como a T.E. Gênero, Sexualidade e Educação deveria ser oferecida junto às demais licenciaturas). O Professor Roney pediu que as alunas anotassem seus argumentos e que continuassem a discussão utilizando-se o canal do facebook, no qual o professor criou um grupo da disciplina.

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Registro da aula do dia 12 de agosto de 2013

Texto: Sexualidades, prazeres e vulnerabilidades: implicações educativas, de autoria da Prof.ª Dagmar Estermann Meyer.
Texto apresentado por: Geciema de Fátima de Mello Vale

Geciema inicia a sua apresentação destacando que o foco da discussão será a área da saúde, uma vez que ela atua nessa área enquanto enfermeira.

A autora do texto fala do prazer como conquista e como imperativo da cultura contemporânea. Nas culturas em que vivemos, o amor e a sexualidade tem sido significados como dimensões indissociáveis da vida humana. Nessa cultura, de forma muito plana, o prazer, a felicidade e a saúde, tornaram-se imperativos, sendo o amor e a sexualidade definidos como ingredientes indispensáveis para que esse prazer, essa felicidade e essa saúde se realizem. A sexualidade envolve mais do que o sexo genital voltado para a reprodução da espécie e as fases etárias teriam características e necessidades distintas. Neste contexto, a puberdade, que antecederia a vida adulta, poderia ser dedicada à vivência de uma “sexualidade mais livre” e não procriativa.

Guacira Louro, recorrendo aos Estudos Feministas e às suas próprias lembranças acerca do tornar-se mulher, discute algumas das importantes mudanças que foram acontecendo, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Uma dessas mudanças foi a invenção da pílula anticoncepcional, que propiciou que o sexo para a mulher não ficasse restrito apenas à reprodução.

Reprodução, sexualidade e prazer foram se modificando no último século nas culturas ocidentais, de forma que podemos hoje não apenas pensar em uma sexualidade direcionada á reprodução, mas sim ao prazer, tanto para homens quanto para mulheres. O surgimento da epidemia de aids teve um impacto importante nesse contexto cultural, pois, ela “colocou nas mesas” das salas de aula, dos serviços de saúde e das famílias o tema sexualidade e a necessidade de se falar dela.

Geciema aponta que existem algumas questões e desafios importantes para professor@s comprometid@s com os processos de ensino e aprendizagem que envolvem a sexualidade, como o trabalho com a educação para a sexualidade na escola e os Parâmetros Curriculares Nacionais de Orientação Sexual. Segundo ela, a culpabilização muitas vezes é a única solução que apresentamos às/aos alun@s, em tom normativo e categórico, desde que a infecção por aids se tornou um problema de saúde pública.

Ela destaca o surgimento do conceito de vulnerabilidade como sendo a união de práticas preventivas de saúde apoiadas no conceito de risco, sobretudo, no contexto da epidemia de aids. Vulnerabilidade, por sua vez, é um conceito mais amplo e complexo, que implica em considerar a chance de exposição das pessoas ao adoecimento e a outros agravos sociais, num conjunto de aspectos não apenas individuais, mas também coletivos. O individual, o social e o programático remetem às seguintes questões de ordem prática: Vulnerabilidade de quem? Vulnerabilidade a quê? Vulnerabilidade em que circunstâncias ou condições? No plano individual, considera-se que a vulnerabilidade a algum agravo está relacionada basicamente aos comportamentos que criam oportunidades para que as pessoas venham a contrair doenças ou viver em determinadas condições. Contemporaneamente, entendemos que as discussões que abarcam a construção dos gêneros, sexualidades, prazer, corpo e saúde envolvem dimensões políticas e sociais que, por sua vez, estão implicadas com a escola e com a profissão docente.

Geciema termina a sua discussão do texto apontando que ao deixarmos de levar em conta a variabilidade e a dinâmica dos significados sociais que estão envolvidos nas dimensões do adoecimento e saúde e ao privilegiarmos abordagens educativas que enfatizam uma perspectiva de responsabilização e culpabilização do indivíduo pelo seu problema, estaremos simplificando e reduzindo a complexidade que envolve os processos de vulnerabilidade d@s jovens, bem como deixando de produzir estratégias educativas de controle e prevenção da saúde.

Para encerrar a sua apresentação, Geciema exibe um vídeo sobre saúde na adolescência, em que @s adolescentes falam das suas concepções sobre saúde. Ela também exibe o trailer do filme “Preciosa”.

Em seguida, o Prof. Roney complementa a apresentação da Geciema. Ele enfatiza a associação entre saúde e moral. A emergência da aids propiciou o surgimento de alguns conceitos como vulnerabilidade, grupos de risco, comportamento de risco. Na escola essa discussão é voltada para @s adolescentes. O nosso entendimento de adolescente para pela irresponsabilidade, sexualidade e drogas. Muitas adolescentes planejam estar grávidas, fazem essa escolha para suas vidas.

Na sequência, o Prof. Roney exibe um powerpoint intitulado “Educação para a sexualidade e equidade de gênero na escola: apontamentos e pistas para o trabalho”. Essa apresentação começa com a seguinte questão: O que é Educação Sexual? A partir daí ele problematiza as práticas comuns associadas à Educação Sexual, como a discussão sobre os sistemas reprodutores, prevenção da gravidez, DSTs, evitando contextualizar a construção social e cultural da sexualidade. Acentua-se a ideia de sexualidade como prática sexual reprodutiva. As experiências que fogem do padrão heterossexual/monoconjugal/reprodutivo não são discutidas e são muitas vezes colocadas no lugar da anormalidade. As questões de gênero são invisibilizadas ou quando são abordadas, se limitam a discutir “papeis” de homens e mulheres. Há o temor de que os sujeitos com uma orientação sexual distinta da heterossexual possam “contaminar” crianças e adolescentes vistos como normais. 

É preciso que entremos em contato com nossas próprias concepções sobre a diversidade de gênero e sexualidade e façamos uma reflexão sobre a necessidade de repensar conceitos construídos, revisar valores, superar mitos e tabus, desconstruir preconceitos e mudar atitudes de discriminação que nós própri@s exercemos. É preciso um investimento dessas questões nas disciplinas dos cursos de formação, colaborando para o debate sobre a inclusão destes temas no currículo escolar. É preciso estar “antenado” para as políticas que garantem a legitimidade de trabalhar com essas questões. Gênero, sexualidade e educação são temas de pesquisas acadêmicas. É preciso que a escola repense o currículo e suas práticas para contemplar assuntos excluídos. É preciso que a escola inclua no projeto político pedagógico e nos planejamentos essas discussões. É preciso que a escola encontre meios de envolver @s responsáveis pel@s estudantes com o ambiente escolar. É preciso estar ciente de que os conflitos existirão, pois esse é um campo cercado de tensões. É preciso estar atento aos materiais didáticos. É preciso fazer parcerias com outras instituições. É preciso ir além da tolerância e do respeito, investindo na problematização sobre como as diferenças são construídas. A formação (em todos os seus sentidos) tem um papel muito relevante nesse processo.

Na segunda parte da aula, o Prof. Roney colou quatro cartazes pela sala com as seguintes palavras: pênis, vulva (vagina), relação sexual e masturbação. Em seguida, ele pediu que @s estudantes escrevessem os nomes populares pelos quais el@s já ouviram falar sobre essas palavras nas salas de aula, na família e na convivência com amig@s. Diferentes nomes foram escritos nos cartazes e o Prof. Roney lançou algumas perguntas: Como podemos trabalhar com esses termos na escola? Onde esses termos estão presentes na escola? Essa linguagem diz dos modos como nós lidamos com a sexualidade, seja por meio da linguagem científica ou por meio da linguagem popular. O uso da linguagem científica ou popular depende do contexto em que estamos inseridos. Podemos problematizar com @s alun@s o porquê do uso dos apelidos e porque em algumas situações é agressivo o uso dessa linguagem.

Em seguida, o Prof. Roney retomou a discussão dos estudos de caso que ocorreu na aula passada. As alunas responsáveis pelo caso número 4 expuseram a situação e problematizaram o que pensaram a partir da leitura do caso e o Prof. Roney leu uma reportagem que falava sobre a masturbação infantil publicada na seção “SOS sala de aula” da revista “Nova Escola”. Ele destacou que discutir essas questões não significa que vale tudo na escola. É questionar e problematizar as situações que aparecem no ambiente escolar.

O Prof. Roney termina a aula com a proposta de uma tarefa. @s estudantes deverão trazer na próxima aula argumentos para justificar a importância da educação para a sexualidade na escola e justificar a importância da educação para a sexualidade na formação inicial.

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Registro da aula do dia 05 de agosto de 2013

Discussão do texto 10: 

MISCKOLCI, Richard. Estranhando a diferença. In._____. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Autêntica/UFOP.

______. Um aprendizado pelas diferenças. In._____. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Autêntica/UFOP>


Texto discutido por Filipe.

Filipe inicia sua fala remetendo às discussões sobre a teoria Queer que foram trabalhadas por um grupo em uma aula anterior. Ela relembra que o grupo que o precedeu deu um panorama geral sobre a Teoria Queer e que as discussões que ele irá trazer dizem, mais especificamente, sobre a “Teoria Queer e a Educação”.

Filipe assevera que para trabalhar as ideias principais do texto fará articulações com filmes e outros dois textos que dizem da Teoria Queer, um da professora Guacira Louro e outro da professora Maria Rita. Ambos os textos estarão disponíveis no blog.

Após esta fala Filipe reapresenta o Professor Richard Misckolci e traz cinco indicações de livros que abordam a Teoria Queer.

Logo após, apresenta o filme “Os sentidos dos sexos” que trata-se de uma entrevista com o Professor Leandro Colling, na qual aborda questões que envolvem a Teoria Queer. Colling apresenta o Movimento Queer como um movimento surgido de um racha no movimento gay nos EUA. O professor chama a atenção para a posição política da palavra Queer, como se referindo ao estranho, ao difícil de definir, mas que é resgatado visando uma positividade da palavra que a princípio era um chingamento. Nesse vídeo Leandro Colling discute algumas questões referentes as transgêneros e as transexuais. O professor discute ainda, a matriz heteronormativa como incidindo, inclusive, nas relações homoafetivas. Discute também os complicadores de se assumir uma identidade gay que pode muitas vezes apresentar um caráter normativo. Colling fala das “camisas de força” que se fazem presentes também nos movimentos gays, nos quais os heterossexuais, os simpatizantes e os bissexuais são posicionados como “suspeitos” dentro do movimento.

Fizemos algumas discussões sobre o vídeo e Filipe deu prosseguimento a sua apresentação em um Prezi repleto de palavras e imagens provocativas (a maioria retirada da página “Minha vida sem mim”).  A primeira discussão do Prezi trás a relação Estado X Escola, como uma relação que remete a biopolítica; como uma forma de disciplinar e controlar a população a partir da escola visando a disciplina e o controle da sociedade em geral. 

Filipe traz também uma discussão sobre bullying, esclarecendo que nessa relação estão envolvidos ao menos  3  personagens; a vítima, o agressor e o espectador. 

Filipe problematiza ainda questão do uso do banheiro como um enquadramento e construção de sujeito. Enfatiza as relações de poder atreladas às relações não discursivas que se fazem, inclusive, nas ordens arquitetônicas, que produzem gêneros. Como exemplo de problematização dessas normas arquitetônicas Filipe citou as intervenções nos banheiros de um seminário em que ele esteve presente; nesse seminário os nomes “ele”/”ela” foram tampados, levando os usuários e vivenciarem situações inusitadas no uso desse produto arquitetônico. Para ilustrar e repensar o uso do banheiro, Filipe trouxe um vídeo no qual @ Cartunista Laerte é entrevistad@ por Marília Gabriela, cujo o assunto foi um episódio vivenciado por Laerte, quando est@ usou o banheiro feminino e foi repreendido por isso. Nesse vídeo Laerte fala ainda sobre as curiosidades que se dirigem as travestis e as transexuais, chamando atenção, ainda, para os atravessamentos de classe que atuam na maior ou menos aceitação desses sujeitos.

Filipe faz uma discussão sobre o estranho, o anormal e o abjeto com relação a sexualidade. Logo após, discute os conceitos de heteronormatividade, e homossexualidade “limpa”. Segundo os estudos apresentados por Misckolsi  a “heteronormatividade é um regime de visibilidade, ou seja, um modelo social regulador das formas como as pessoas se relacionam” (p. 41-42), sendo que a homossexualidade “limpinha” se constituiria em uma forma da homossexualidade “mais aceita”, seria aquela que estaria dentro dos padrões heteronormativos, por se constituir em forma de família menos abjeta. Dentro destas constituições normativas, podemos pensar nas constituição de mulheres machistas, gays homofóbicos, negros racistas, dentre inúmeros paradoxos observados em nossa sociedade. Para ilustrar essa discussão Filipe trouxe um exemplo de uma ativista lésbica que em uma situação de campeonato de futebol, utilizou-se (sem perceber) de posicionamentos homofóbicos para desqualificar os opositores que se colocavam frente à ela naquele momento. A emergência da AIDS foi lembrada como uma estratégia para reforçar a heteronormatividade compulsória.

O texto, segundo, Filipe aponta para a heteronormatividade como o grande alvo da Teoria Queer, entendendo que a heteronorma não se aplica apenas aos heterossexuais. Filipe retoma os conceitos de heterossexismo como “a ideia de que todos são ou deveriam ser heterossexuais”, da heterossexualidade compulsória como uma “imposição do modelo amoroso-sexual entre pessoas do sexo oposto” e da Heteronormatividade como “a ordem sexual do presente, fundada no modelo heterossexual, familiar e reprodutivo”.

Voltando-se mais propriamente para a educação, Filipe traz um fragmento do texto: 

Um olhar a partir das diferenças na educação, implica tentar perceber os modelos, os padrões; em outras palavras, as normas e convenções culturais que buscam se impor de forma indireta por meio, por exemplo, do material didático ou dos discursos correntes na mídia (p.44).



E acrescenta:

Um olhar queer é um olhar insubordinado. É uma perspectiva menos afeita ao poder, ao dominante, ao hegemônico. E mais comprometida com os sem poder, dominados, ou melhor, subalternizado (p. 44).

Enquanto escrevo esse relato fico pensando nesse “sem poder”... Como sem poder? Não discutimos na perspectiva de relações de poder? Penso que os sujeitos dos quais o autor fala são subalternizados por uma cultura de hierarquização de poder e sujeito, contudo, isso não quer dizer que eles sejam sem poder, mas sim que estejam em uma relação desigual de poder, mas mesmo assim capazes de exercer poder, de forma diferenciada dos sujeitos posicionados como hegemônicos, mas exercendo poder...

Filipe problematiza que na Teoria Queer não se trata de inverter os polos das dicotomias, mas problematizar as diferenças e as multiplicidades.

No tópico Diversidade X Diferença, Filipe pontua que a diversidade expressa uma concepção estática de cultura e a diferença afirma a necessidade de ir além da tolerância e da inclusão, reconhecendo o outro como parte de nós. Para ilustrar essa questão, Filipe traz um vídeo da Coca-cola, no qual evidencia-se a diferença e as afetações que se dão nesses processos de subjetivação. Ao final do vídeo Filipe faz uma problematização do mesmo mostrando a riqueza das imagens e do “texto”, ressaltando, contudo, a vinheta “Viva a diferença” como incomodante á ele. Roney retoma a vinheta e fala que mais do que exaltar a diferença, no sentido de um “Viva a diferença”, o importante é viver a diferença, o que dá uma outra leitura para a propaganda apresentada.

Voltando ao texto e atrelando-o a propaganda apresentada, Filipe traz o seguinte fragmento:

As diferenças têm o potencial de modificar as hierarquias, colocar em diálogo os subalternizados com o hegemônico, de forma, guiçá, a mudar a ordem hegemônica, a mudar a nós mesmos. A diferença nos convida ao contato e a transformação; ela nos convida a descobrir o Outro como uma parte de nós mesmos (p. 49).


Com a problematização acima Filipe encerra o primeiro texto e introduz o segundo texto: “Um aprendizado pelas diferenças”. Esse texto traz o desafio colocado à Educação que seria o de repensar o que é educar, o como educar e o para que educar. Uma educação queer não impõe modelos preestabelecidos de ser. Não é um “braço” da normalização biopolítica.  É um veículo social para a desconstrução de uma ordem histórica de desigualdades e injustiças. Identificar, desconfiar, desconstruir processos educativos e o espaço escolar. Fugir de uma “engenharia de produção de corpos normais”. Esses caminhos nos exige que utilizemos os materiais didáticos como fontes para refletir e questionar os padrões. Quanto à sexualidade, esta aguarda ainda para ser trazida para o debate com menos binarismos e mais trânsitos e multiplicidades, o que indica um caminho que direciona para o entendimento da sexualidade não como algo “bio” e de discussão de DSTs e gravidez, mas como oportunidade de vivenciar desejos e prazeres, fugindo do padrão normativo de se pensar a educação sexual como um meio de ensinar com quem e como se relacionar sexualmente.

Nesse momento Filipe traz um texto apresentado ao final do livro de Misckolci  que trata de “Giancarlo Cornejo e a guerra contra o menino afeminado”. Filipe faz a leitura de um trecho do texto para pontuar alguns enquadramentos e as resistências perpetradas nesse caso e que dizem da escola nessa  e em outras situações. 

Segundo Filipe, uma educação não normativa deve ir além de mostrar famílias com dois pais ou duas mães. E pensar na multiplicidade das constituições familiares através de questões, tais como: Todas as pessoas precisam se casar? O casamento é importante para constituir família? O casamento deve ser obrigatório para se constituir família? Viver sozinho é proibido?  As famílias fora do casamento são menos famílias? Uma mulher tem que ser mãe? Ela pode decidir não ser mãe?

A partir daqui Filipe enriquece a sua apresentação com o texto: “Uma pedagogia e um currículo Queer”. Segundo esse texto, uma pedagogia e um currículo que se pretende queer deve pensar queer naquilo que é normal e anormal no queer. Uma pedagogia queer desloca e descentra. Um currículo queer não é canônico. Porém, o currículo queer não é um vale tudo, é um modo de pensar, portanto mexe com várias questões postas na sociedade, inclusive questões religiosas e de família tradicional. A pedagogia queer escapa dos enquadramentos e coloca o conhecimento como uma questão interminável. “A teoria queer é desconcertante, provocativa, perturbadora, estranha e fascinante. Por tudo isso ela parece arriscada. E talvez seja mesmo... mas, seguramente ela também faz pensar (LOURO, 2001, P.552)”.

Com o texto de Maria Rita: A diferença no currículo ou a intervenção para uma pedagogia queer, Filipe traz a problematização da autora: 

Por que uma pedagogia queer? Para introduzir na pedagogia e na educação a dúvida e a incerteza em relação a norma disciplinar quanto aos saberes dos corpos. Isto é, para dilacerar os limites do pensamento e pensar o impensável (CÉSAR, 2012, 352). 

Para pensar o “impensável”, Filipe traz um documentário do Discovery: “O homem grávido”. Após a apresentação do vídeo Filipe traz outras indicações de filmes como “Transamérica”; Meninos não choram”; “Tudo sobre minha mãe”, dentre outros.  Filipe traz a reflexão: “Viver é etc” , ou seja precisamos experimentar uma outra lógica e romper as fronteiras do pensamento normativo, (re)inventar outras formas de ser,  nos(re)constituir a cada momento.

No segundo momento da aula, Roney, desenvolve uma atividade a partir de fragmentos de “Diário de Bordo” elaborados por suas alunas em sua aula nos anos anteriores. A atividade era para, a partir dos fragmentos, analisar as situações apresentadas, pensando sobre ela e dizendo de que modos procederia frente a situação apresentada. Foram 4 situações vivenciadas em cotidianos escolares e cada dupla desenvolvia a atividade, por escrito, a partir de uma dessas situações.

No fragmento um, uma criança pequena (de colo) estranha uma cantineira e essa enquadra essa criança como gay, só porque apresentava “traços femininos” e chorava “atoa”. Dois grupos desenvolveram esse tema. De um modo geral pensavam que seria importante chamar a funcionária para conversar sobre o ocorrido, problematizando a situação; fazer reuniões na escola para que esse tipo de comportamento não ocorresse com outr@s funcionári@s e investigar o cotidiano para ver se esse tipo de comportamento não estaria se dando com outras crianças e/ou com a mesma criança em outras situações.

No fragmento dois, a aluna que escreve o diário se incomoda com funcionários que enquadram uma criança como gay pelo modo como ela anda. As alunas que discutiram esse fragmento disseram que, inicialmente, o que bateria seria uma insegurança para abordar o caso, uma vez que teriam que lidar com uma questão que envolve colegas de trabalho. Um dos grupos disse que primeiro pensaria em uma conversa informal com o funcionário/a para só após esta abordagem partir para uma intervenção mais ampla, como por exemplo uma reunião mais geral. Os dois grupos pensaram em reuniões de formação, um iria direto para a reunião e o outro prepararia o caminho para essa reunião. Várias intervenções se seguiram ao relato dos grupos, inclusive trazendo a ideia de uma matéria obrigatória nas universidades que discutisse as relações de gênero e sexualidade.

O terceiro fragmento abordou o caso de uma estagiária que se viu em dificuldades frente a um menino que queria se maquiar durante o recreio.Ela lançava a questão: Maquiar meninos pode ou não pode? As estratégias de intervenção giraram em torno de um trabalho com os responsáveis pelas crianças, bem como de possibilitar junto às crianças espaços de brincar menos sexistas, criando-se, por exemplo “O dia da Boneca”, ou o “Dia do carrinho”, “ O dia do futebol” de modo a envolver meninos e meninas em uma mesma brincadeira.

Com o adiantar da hora, Roney sugeriu que continuássemos as discussões na próxima aula.

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Registro da aula do dia 29 de julho de 2013

Texto: LOURO, Guacira Lopes. Práticas educativas feministas. In: _____. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 10ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 110-141.

Apresentado por: Zaine Simas Mattos

Zaine inicia a sua apresentação mostrando um mosaico composto por diversas imagens de mulheres feministas. Em seguida, ela fala um pouco da história do movimento feminista, destacando as 3 grandes ondas do movimento, ilustrando com fotos abordando o sufragismo em diversos países do ocidente, como França, Inglaterra e República Dominicana.

No Brasil, a primeira onda do movimento feminista foi composto por feministas anarquistas (mulheres trabalhadoras das fábricas) que reivindicavam o poder sobre o próprio corpo e por feministas liberais (composto por uma imprensa feminista que focava na continuidade da família).

A segunda onda do movimento feminista teve início na década de 1960 e foi até a década de 1980. Foi composto por um contexto de efervescência social e política, de contestação e transformação. No Brasil essa onda coincidiu com o período da ditadura militar e tinha preocupações com as desigualdades sociais, culturais e políticas. As feministas levam para o mundo acadêmico questões de militância e surgem os estudos da mulher.

A terceira onda do movimento feminista surge a partir da década de 1980 e no Brasil a partir da década de 1990. Surge o conceito de gênero, a problematização dos diversos modos de ser mulher e aproximação com outros movimentos sociais.

Após essa introdução, Zaine exibiu dois vídeos. O primeiro vídeo mostrava a exaltação e as multiplicidades da mulher brasileira por meio de depoimentos de diferentes mulheres do nosso país. O segundo vídeo mostrou uma entrevista com a Prof.ª Margareth Rago em que ela discutia sobre mulheres e feminismos.

Ao adentrar na discussão do texto, Zaine fala dos enfrentamentos feministas para a superação das desigualdades de gênero na educação. Tais estudos implicaram em diversas perspectivas teórico-metodológicas e, em consequência, apontaram para múltiplos encaminhamentos e proposições. Destacaram-se nesse sentido as feministas radicais, que buscavam modelos pedagógicos alternativos e o retorno das escolas separadas por gêneros.

As pedagogias feministas foram pensadas a partir de argumentos e críticas. As feministas, reconhecendo que a instituição escolar foi construída sobre uma ótica masculina procuraram produzir um paradigma educacional que se contrapusesse aos paradigmas vigentes. As pedagogias feministas foram inscritas na perspectiva das pedagogias emancipatórias com a pretensão de “conscientizar”, “libertar” e “transformar” os sujeitos e as sociedades. Paulo Freire foi uma referência para as pedagogias feministas.

Dentre as estratégias das pedagogias feministas Zaine destacou a voz do/a professor/a como única forma de conhecimento passa a ser substituída por múltiplas vozes/diálogo (todos/as são falantes e ouvintes); colocação no mesmo plano do saber pessoal e o acadêmico por meio do estímulo das falas, abala-se o status de experts; rejeição explícita da autoridade em que as hierarquias e classificações são deixadas de lado; a competição cede lugar à cooperação (produção coletiva de conhecimento colaborativo apoiado na experiência de todos/as); carga subversiva nas formulações e acreditam numa estratégia de dar poder a mulher (pensando o poder como algo que se detém).

Em seguida, Zaine problematizou a perspectiva feminista pós-estruturalista destacando que o propósito é questionar a adesão acrítica a qualquer modelo, mas sem deixar de reconhecer os esforços de transformação das feministas. A construção de uma prática educativa não-sexista necessariamente terá de se fazer a partir dos jogos de poder.

Ao falar de uma prática educativa não sexista, Zaine diz que as condições de existência das instituições escolares estão em transformação: com a presença massiva das mulheres, maior visibilidade dos sujeitos LGBTT e seu reconhecimento pela mídia, a imposição das discussões sobre sexo e sexualidades. Também destacou que as críticas feministas, dos Estudos Culturais, Queer, Negros, dentre outros estão produzindo efeitos, possibilitando experiências e iniciativas que buscam subverter situações desiguais de classe, raça, gênero, etnia. Contudo, ela enfatizou que não há “receitas” e soluções para uma prática educativa não-sexista. O que é possível é a observação e o questionamento: PROBLEMATIZAÇÃO. Como nos lembra Louro (2008, p. 121) o/a professor/a deve “não apenas preparar as aulas, mas prepara-se para as aulas. Afinar a sensibilidade que supõe informação, conhecimento e também desejo e disposição política”.
Na sequência, Zaine traz algumas perguntas para pensarmos a partir delas: Que fazer para mudar? Como agir, na prática cotidiana, de uma forma mais consoante com o que vem sendo discutido até aqui? Quais as providências ou as atitudes mais adequadas para promover uma educação não-discriminatória (ou no mínimo, uma educação  menos discriminatória)? Louro (2008, p. 122) nos fala que “movimentos coletivos mais amplos sejam certamente importantes, no sentido de interferir na formulação de políticas públicas”, mas torna-se igualmente “urgente exercitar a transformação a partir das práticas cotidianas mais imediatas e banais, nas quais estamos todas/os irremediavelmente envolvidos”.

Em seguida, Zaine aborda a questão da Educação Sexual, destacando que gênero e sexualidade ainda são pensados dentro de um campo disciplinar. A Educação Sexual se apresentou e ainda se apresenta sob muitas formas: escola/família; incitação ao jovem; disciplina específica. Não escapa aos setores conservadores o caráter político das relações de gênero e sexualidade. O sexo é entendido como perigo e ameaça. Os setores conservadores passam a disputar todos os espaços em que uma educação sexual possa ser desenvolvida. Políticas curriculares são então alvo de uma atenção, na tentativa de regular e orientar crianças e jovens dentro dos padrões que consideram moralmente “sãos”. Há também dentro desses setores conservadores, os que negam que a Educação Sexual seja uma “missão” da escola, uma vez que nela estão implícitas escolhas morais e religiosas, o que cabe à família. Mas há grupos, notadamente feministas, que também buscam intervir na formulação das políticas curriculares, pretendendo que elas se tornem mais coerentes com as teorizações e discussões mais recentes (caráter cultural, social e relacional dos gêneros, inclusão da dimensão do prazer; afirmação das identidades LGBTT; rompimento com discursos discriminatórios...). Os programas de Educação Sexual realizam seus movimentos com extrema cautela, buscando por refúgios científicos e fortemente atravessados por escolhas morais e religiosas. São marcados por dualismos: saúde/doença; heterossexual/homossexual; próprio impróprio; benéfico/nocivo. Muitos desses programas ainda prezam pela categorização das práticas sexuais, dos comportamentos e das identidades sexuais, em que o modelo ainda é a família nuclear, constituída por casal heterossexual e com filhos. 

Zaine aproveita a oportunidade e exibe imagens destacando as relações de gênero nas mídias e nas histórias infantis. Ela também mostra uma matéria do blog “Feminismo pra quê?” que enfatizava uma crítica aos fiscais da militância, pessoas que não ajudam o movimento e ainda assim desmerecem o trabalho das feministas.

Finalizando a sua apresentação, Zaine lembra de outras “tradições” que foram destruídas com o passar dos anos, como a escravidão, o trabalho infantil, a segregação racial e o não direito de votar das mulheres. Em seguida, foi aberta uma discussão sobre as percepções provocadas a partir da apresentação do texto.

Na segunda parte da aula o professor Roney realizou a leitura do livro infantil “Ceci tem pipi?”, na perspectiva de problematizar no que o livro nos faz pensar. Após a leitura, algumas alunas trazem suas percepções e inseguranças ao tratar dessa temática na educação infantil e o professor Roney destaca que “é se colocando na experiência que a gente vai saber como agir” e que “preparar a aula é preparar-se para a aula”. As possibilidades de trabalho com gênero e sexualidade na escola acontecem quando aproveitamos as oportunidades de se abordar os temas.

A seguir, o professor Roney lançou as seguintes perguntas para a turma: Que associação podemos fazer com a história do livro e as discussões feministas? Quais os efeitos das lutas feministas nos currículos e nas práticas escolares? As estudantes respondem lembrando da não demarcação explícita de cursos superiores para homens e cursos para as mulheres e as brincadeiras destinadas especificamente para meninos e para meninas. O professor Roney pondera que a intervenção do professor é importante porque a prática pedagógica é uma ação política e que devemos ter cuidado para não acentuar as divisões de gênero na escola.

No encerramento da aula o professor Roney deixa a seguinte tarefa para @s estudantes: Como vocês trabalhariam com o livro “Ceci tem pipi?” na escola? Ele enfatizou que no momento da escrita @s estudantes devem relatar também os medos, inseguranças e dúvidas que surgirem.

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Registro da aula do dia 22 de julho de 2013

Discussão do texto 8: 

LOURO, Guacira Lopes. A construção escolar das diferenças. In.: LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

Texto discutido pelas alunas Carolina Gasparete, Luciana Esteves e Marcela Galvão.

As alunas trouxeram no PowerPoint a seguinte reflexão:

“Como se produziram e se produzem as diferenças (na escola) e os efeitos que isso tem sobre os sujeitos?”

As alunas convidaram as colegas de sala para discutirem o assunto... como as colegas ficaram se entreolhando, mas sem problematizar a questão, as alunas prosseguiram com a apresentação, falando sobre o “histórico da disciplina na escola versos sujeitos”. Elas trouxeram uma frase do livro para demonstrar como a disciplina escolar é ensinada: “Os mais antigos manuais já ensinavam aos mestres os cuidados que deveriam ter com os corpos e almas de seus alunos” (LOURO, 1997, p. 65).

As alunas trazem uma discussão do livro “Vigiar e punir” (FOUCAULT, 2009) através de uma discussão de Borges (2004), ressaltando a escola como um ambiente eu se assemelha a uma prisão.

Com o subtítulo “Escola: delimitação de espaços” as alunas discutem os espaços escolares a partir da do fragmento do texto estudado:

A escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e códigos, ela afirma o que cada um pode ou não pode) fazer, ela separa e institui. Informa o "lugar" dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas. Através de seus quadros, crucifixos, santas ou esculturas, aponta aqueles/as que deverão ser modelos e permite, também, que os sujeitos se reconheçam (ou não) nesses modelos. O prédio escolar informa a todos/as sua razão de existir. Suas marcas, seus símbolos e arranjos arquitetônicos "fazem sentido", instituem múltiplos sentidos, constituem distintos sujeitos (LOURO, 1997, 62).

As alunas discutem a utilização dos espaços de meninas e meninos, problematizando as construções que possibilitam que os meninos usufruam de mais espaço, dentro da escola, do que as meninas. As estudantes dão relatos pessoais falando das relações de poder que tendem a posicionar as meninas como comportadas, que não devem correr ou se sujarem, que terminam dificultando que elas disputem de maneira mais igualitária o espaço com os meninos.

Para a problematização dos espaços, as estudantes trouxeram figuram que são afixadas nas portas dos banheiros, determinando qual banheiro é de menina e qual banheiro é de menino. Segundo as alunas até mesmo as gravuras marcando as diferenças entre os gêneros.

Em outro subtítulo, as estudantes discutem a “Naturalização versos Espaços”, retomando o item anterior sobre o espaço escolar dividido desigualmente entre as meninas e meninos. As alunas apontam que essa questão vem sendo discutida de modo naturalizado no instante em que se atribui à “natureza” masculina a necessidade de maior espaço.

A seguir as alunas trazem o subtítulo: “O ‘perigo’ das naturalizações nas relações de gênero dentro da escola”, discutindo os seguintes fragmentos do texto:

Os sentidos precisam estar afiados para que sejamos capazes de ver, ouvir, sentir as múltiplas formas de constituição dos sujeitos implicadas na concepção, na organização e no fazer cotidiano escolar (LOURO, 1997,p. 63).


São, pois, as práticas rotineiras e comuns, os gestos e as palavras banalizados que precisam se tornar alvos de atenção renovada, de questionamento e, em especial, de desconfiança.A tarefa mais urgente talvez seja exatamente essa: desconfiar do que é tomado como "natural"(LOURO, 1997,p. 67).

No subtítulo “Para além das questões de gênero” as alunas trouxeram os seguintes fragmentos para a discussão:

Mas as divisões de raça, classe, etnia, sexualidade e gênero estão, sem dúvida, implicadas nessas construções e é somente na história dessas divisões que podemos encontrar uma explicação para a "lógica" que as rege (LOURO, 1997,p. 64).

As alunas também se valeram de um texto da Jane Filipe para argumentar que as relações de poder entre homens e mulheres, entre meninos e meninas se apresentam como construções sociais, mas que no atravessamento com a escola parecem ser lidas como naturais, ou seja inerentes aos seres.

No subitem “A escola ‘laica’” as alunas se apropriam de um texto de DOMINGOS (2009) para fazerem uma discussão sobre tolerância e intolerância. Neste momento o professor Roney faz uma problematização do termo tolerância, enfatizando que muitas das vezes este termo colocasse de forma complicada, uma vez que pode apontar para uma aceitação do “outro” de forma que a pessoa que “aceita” e “tolera” este outro pode se colocar no lugar de alguém que, hierarquicamente, se posicione como melhor do que o/a outro/a, encarando a tolerância como uma benesse em relação a alguém que é inferior a ele. 

Para trabalharem o Subtítulo: “Linguagem versos relações de poder” as alunas trouxeram o fragmento:

Mas a linguagem institui e demarca os lugares dos gêneros não apenas pelo ocultamento do feminino, e sim, também, pelas diferenciadas adjetivações que são atribuídas aos sujeitos, pelo uso (ou não) do diminutivo, pela escolha dos verbos, pelas associações e pelas analogias feitas entre determinadas qualidades, atributos ou comportamentos e os gêneros (do mesmo modo como utiliza esses mecanismos em relação às raças, etnias, classes, sexualidades etc). (LOURO, 1997, p. 71).

As alunas discutem como a linguagem forma o sujeito, evidenciando, de acordo com Louro (1997) que, quando um menino se sai bem na escola é classificado como “brilhante” ao passo que quando uma menina se encontra nessa mesma situação é classificada como “esforçada”. As alunas problematizaram como a linguagem é usada para construir e classificar as pessoas. Esse pensamento sobre a linguagem também se aplica a outras categorias como classe, raça, etnia, dentre outras.

Sob o subtítulo “O não dito”, as alunas trouxeram o fragmento:

Além disso, tão ou mais importante do que escutar o que é dito sobre os sujeitos, parece ser perceber o não-dito, aquilo que é silenciado — os sujeitos que não são, seja porque não podem ser associados aos atributos desejados, seja porque nãopodem existir por não poderem ser nomeados (LOURO, 1997, p. 71).

No item: “Escola x produção conceitual de família”, as alunas problematizaram as representações de uma família típica idealizada com pai, mãe, um filho e uma filha (além dos caracteres de família branca e bem vestida). Elas distribuíram para a turma uma gravura que acharam na internet. Essa família era representada como a família típica idealizada, conforme foi colocada anteriormente. Elas discutiram que essas gravuras são reproduzidas, por muitas escolas e professoras de forma acrítica e distribuídas para as crianças colorirem no Dia da Família. As alunas discutiram sobre as agressões que podem sofrer as crianças ao perceberem que sua família não se adéqua ao tipo de família ideal reproduzida pela escola. Uma das alunas que estava apresentando o trabalho, procurou no meio dos trabalhinhos feitos na escola por seu filho, o tipo de família trabalhado, e qual não foi a surpresa da aluna ao se deparar com a reprodução do tipo de família ideal discutido nesse trabalho. A aluna discutiu a força da disciplina ao possibilitar que ela pudesse problematizar coisas que para ela, anteriormente a disciplina, eram invisibilizadas. Ela disse que seu filho tinha colorido este tipo de família no ano anterior e que naquele momento ela não tinha percebido os juízos de valores e as construções de família que estavam presentes naquele desenho reproduzido pela escola. Segundo ela, só agora, participando da disciplina T. E. Gênero, Sexualidade e Educação é que ela conseguiu perceber essas nuanças tão invisibilizadas na escola. Ela disse que não só nos trabalhinhos do “Dia da Família” essas representação de família ideal era repassada, ela encontrou um trabalhinho de inglês para colorir a família que apresentava a mesma representação.

Roney fez uma discussão sobre a multiplicidade de arranjos familiares e disse da importância de se discutir essas variadas formas de constituição de família dentro da escola de forma a não eleger apenas um tipo como o ideal, hierarquizando e classificando as famílias como as “ajustadas” e “desajustadas”, as  “normais” e as “problemáticas”...
No item: “O livro didático x construções de valores”: as alunas discutiram o seguinte fragmento:

Os livros didáticos e paradidáticos têm sido objeto de várias investigações que neles examinam as representações dos gêneros, dos grupos étnicos, das classes sociais. Muitas dessas análises têm apontado para a concepção de dois mundos distintos (um mundo público masculino e um mundo doméstico feminino), ou para a indicação de atividades "características" de homens e atividades de mulheres. Também têm observado a representação da família típica constituída de um pai e uma mãe e, usualmente, dois filhos, um menino e uma menina. (LOURO, 1997, p. 74).

As alunas discutiram ainda as questões de raça presente no livro didático que posicionam as pessoas brancas e negras, hierarquizando-as.

No item “Educação Física x Afirmação de padrões”, as alunas discutiram de que modos a Educação Física pode ser um espaço de problematização das questões de corpo e gênero dentro da escola. Elas destacam o seguinte fragmento do texto de Louro (1997,p. 78):

A Educação Física parece ser, também, um palco privilegiado para manifestações de preocupação com relação à sexualidade das crianças. Ainda que tal preocupação esteja presente em todas as situações escolares, talvez ela se torne particularmente explícita numa área que está, constantemente, voltada para o domínio do corpo.

As alunas recorrem a um texto de Foucault presente em Campo para discutir o controle dos corpos na Educação Física apontando que o controle dos corpos não se faz apenas sobre as consciências, mas este se dá através de ações discursivas e não discursivas, através observações, comparações e classificações.

No subitem: “Construção de identidades dentro do padrão heteronormativo” as alunas destacam o trecho de Louro (1997, p. 72) “evitar que os alunos e as alunas "normais" os/as conheçam e possam desejá-los/as(LOURO, 1997, p. 72), para evidenciar o temor que a escolas e os/as professoras têm frente a homossexualidade na escola.

No subitem: “Disciplina dos corpos X escola”, as alunas recorrem a Foucault para discutir que o sucesso do poder disciplinar se deve ao sucesso de instrumentos simples: o olhar, a hierarquia, a sanção normalizadora, dentre inúmeras outras formas sutis de exercer poder.

Ao final da exposição e dos debates as alunas trazem as suas conclusões levantadas pelo texto, valendo-se do seguinte fragmento de Louro (1997, p.90).

adotar uma atitude vigilante e contínua no sentido de procurar desestabilizar as divisões e problematizar a conformidade com o "natural"; isso implica disposição e capacidade para interferir nos jogos de poder.

Quando as alunas abriram o espaço para que as colegas pudessem perguntar sobre o trabalho apresentado, uma aluna deu um depoimento falando que trabalha na Brinquedoteca de uma escola. Ela relatou que quando começou este trabalho apresentava um olhar naturalizado em relação à separação dos brinquedos de meninas e meninos, mas que, em função da participação nas aulas de gênero e sexualidade, passou a se incomodar com essa organização, o que a levou misturar os brinquedos. A aluna descreveu como um fato interessante, as próprias crianças cobrarem dela que ela não podia misturar os brinquedos; disseram que ela estava fazendo tudo errado, que brinquedos de meninos eram de um lado e os de meninas do outro, tamanha era a naturalização dessa organização dentro da escola.

Para finalizar, as alunas trouxeram o filme: “A peste de Janice” disponível em:

Após a apresentação do filme as alunas relataram fatos ocorridos em seus estágios e ambientes de trabalho, nos quais visualizavam questões de bullyng, movidos por situações de preconceito racial, de classe e de gênero.

Roney se lembra de um episódio dos Simpson para falar da medicamentalização dos corpos infantis no ambiente escolar no sentido de torná-los dóceis e adaptáveis a este ambiente.
Uma aluna que estava apresentando o trabalho pede para o Professor Roney falar um pouco mais sobre a Educação Física e as relações de gênero. Roney fala da Educação Física como um espaço no qual os corpos se tornam mais expostos e sujeitos a contatos físicos, o que pode propiciar problematizações sobre corpo, gênero e sexualidade ou, se tornar um lugar de vigilância desses corpos. Filipe por ser formado em Educação Física aproveita para trazer suas discussões sobre a Educação Física e a relação com os corpos, bem como as discussões sobre gênero e sexualidade travadas nesse ínterim. Filipe traz vários exemplos e problematizações referentes a Educação Física Escolar.

Na segunda parte da aula Roney recorre a introdução do livro “Um Corpo educado” (LOURO) Para falar sobre memórias/lembranças de escola, para pensar sobre a construção de meninos e meninas no ambiente escolar. Após a leitura e discussão de alguns trechos, Roney convida às alunas a relatarem momentos de construções de meninos e meninas no espaço escolar. Algumas alunas dão relatos que falam de posicionamentos de gênero, nos quais falam de como tinham que ser comportadas, educadas e respeitosas. Roney pergunta a turma sobre o que podem pensar sobre estes relatos. Após algumas colocações Roney afirma que somos produtores e produtos dos contextos escolares, como também dos demais espaços e instituições da sociedade. Segundo Roney, o poder é produtivo, produz corpos de meninos e meninas dentro de determinados enquadres. As alunas mais uma vez recorrem aos estágios e às escolas nas quais trabalham para pensarem e ilustrarem as colocações de Roney. As alunas falam sobre os recreios separados, sobre os “namoros” na educação infantil, dos beijos na boca entre crianças pequenas. Uma aluna falou de seu sobrinho que adorava desenhar castelos e princesas e que por perseguição da professora, preferiu parar de desenhar. Sobre a questão dos “namoros” e dos toques entre crianças pequenas, Roney, lembrou discussões travadas em outras aulas, que para se pensar sobre a sexualidade na infância, primeiro temos que pensar sobre nossas concepções de infância e de sexualidade. Falou também sobre a erotização do olhar do adulto sobre os gestos simples das crianças. Diante da pergunta: “e como agir em situações de namoro e exercício da sexualidade infantil?”, houve um silêncio incômodo na turma. Algumas alunas disseram da dificuldade de um agir autônomo por parte das professoras e professores, situando a escola e os pais como cerceadores desse agir. Outras alunas disseram que mais do que explicar sobre sexualidade para as crianças seria importante ouvir as crianças sobre o que estão fazendo e sentido, para só depois agir. Outras alunas acreditam que diante dessas situações o melhor seria jogar o problema para a família. Após inúmeras colocações e exemplos Roney afirma que pode-se criar, prescritivamente, inúmeras soluções pontuais para ação diante de situações que envolvam a sexualidade na escola, contudo, afirma ele, estas soluções seriam descontextualizadas e poderiam não atender a singularidade observada, por isso, mais do que criar “receitas” para essas situações, o mais importante é pensar a própria sexualidade e se embasar teoricamente para saber agir na contingência do ocorrido. Temos que constituir argumentos fortes para nos fortificar frente às situações vivenciadas na escola. Quando um/uma professor/a de qualquer outra disciplina vai atuar ele/ela deve estudar para se embasar e defender o que vem desenvolvendo; o mesmo deve acontecer com o professor e a professora que se propõem a discutir as relações de gênero e sexualidade. Quando não temos argumentos, preferimos deixar os problemas de lado.

Roney trouxe as “produções textuais” que as alunas fizeram em aulas anteriores, afirmando se preocupar com os “achismos” ainda muito presentes nas produções. Roney apontou para a necessidade de embasar os textos com as discussões trazidas pelos autores estudados. O que fazemos com o que os autores falam? Podemos discordar dos autores, mas temos que conhecer para poder discordar. Temos que ter argumentos para discordar.

Roney afirmou que mesmo com todas as discussões e leituras em aulas, ainda encontrou textos falando sobre “opção” sexual. Roney demonstrou sua preocupação com as discussões superficial dos textos. Ele acredita que está faltando leitura. Roney afirmou que prefere ir ao texto, para que cada aluna possa tirar as suas próprias conclusões e fazer suas próprias inferências. Para ele é melhor trabalhar com leitura e discussão de texto do que dar aula expositiva. Roney fala da importância da escrita expressar o que pensamos e que argumentos temos sobre determinados assuntos. Roney apontou para a necessidade de pensar em outras formas e estratégias para substituir as produções textuais que foram dadas. O professor pediu para as alunas refletirem sobre o que escreveram para na próxima semana discutirem sobre a dinâmica das aulas. Roney pergunta: as leituras estão difíceis? O que podemos fazer? Roney argumentou pela necessidade de ir ao texto, de lê-lo com antecedência, sob o risco de alterar a dinâmica de leitura e debate de textos para uma dinâmica de aula expositiva a partir de apresentações em PowerPoint. Roney lembrou que um ponto importante da disciplina é pensar diferente do que se pensa, é sair do lugar que se está. Roney pediu para que cada aluna pensa-se sobre a dinâmica da disciplina e envia-se para ele, ou por e-mail, ou por escrito, ou pessoalmente o que vêm pensando.

Roney aproveitou para falar sobre a dinâmica do Diário de Bordo, pensando-o como um espaço para o pensamento, como um lugar de diálogo com o que se sabe e com o que vem construindo e descontruindo a partir da disciplina.


Referência:
FOUCAULT. Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Tradução de Raquel Ramalhete. 37 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

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Registro da aula do dia 15 de julho de 2013

Por: Filipe França

Na primeira parte da aula de hoje nós nos dedicamos à produção de cartazes que trouxessem mensagens sobre as questões que discutimos no decorrer da disciplina. Para a confecção desses cartazes, o professor Roney disponibilizou revistas, cartolinas, pincéis atômicos, colas e tesouras. Ele também enviou um e-mail às/aos estudantes solicitando a el@s que também trouxessem esses materiais. @s estudantes produziram cartazes contendo frases, imagens e desenhos acerca dos temas discutidos nas aulas e mostraram para @s demais colegas. Ao final da primeira parte da aula o professor Roney recolheu os cartazes e posteriormente irá afixá-los pelos corredores da FACED.

A segunda parte da aula foi reservada para a elaboração da 2ª produção textual individual. Essa produção foi norteada por três questões. A primeira sugeria a problematização da sexualidade como “algo natural”, pensando que as sexualidades não se condicionam pelos aspectos biológicos. A segunda questão solicitava que @s estudantes relatassem o que aprenderam em relação às homossexualidades e o porque de dizermos que ela não é uma opção. Por fim, a terceira questão pedia a explicação do termo heteronormatividade, associando-o às discussões de nossas aulas.

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Registro da aula do dia 08 de julho de 2013

Por: Filipe França e Zaine Mattos

Discussão do texto 7:

GUACIRA, Louro. Heteronormatividade e homofobia. In: JUNQUEIRA, Rogério D. (Org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: MEC/SECAD/UNESCO.

Texto discutido pelo aluno Marcos Rodrigues e pela aluna Andressa Mileto.

Andressa e Márcio iniciaram apresentando o tema da discussão: Heteronormatividade e homofobia. Para começar as discussões pensaram em reproduzir para a turma um vídeo, como a internet não estava funcionando Andressa narrou o vídeo:

No vídeo uma criança conversa com um casal gay sobre o relacionamento dos dois, buscando entender porque eles estão juntos. A criança chega à conclusão que eles estão juntos porque se amam. Compreendido isto a criança sai para jogar ping-pong e convida o casal para ir com ela (simples assim). (Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=cq-CzW5Q8p8 Acesso em 08 de julho de 2013)

Andressa e Marcos parecem ter optado por uma apresentação do texto de forma que os dois foram falando, um complementando a fala do outro sem uma divisão prévia do texto.

Na apresentação do texto Andressa e Marcos começam a discutir sobre: heteronormatividade/homossexualidade/homofobia. Para situar o artigo trazem o vídeo “Shame no More” (Vergonha nunca mais) (Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=U37Zhut1ylM – Acesso em 8 de julho de 2013), trazendo a seguinte questão: “E se o normal fosse o contrário?” Durante o filme a turma se manteve em um profundo silêncio cortado, as vezes, com alguns risos diante das cenas.

Marcos e Andressa retomaram o filme para discutir a heteronormatividade, como forma de educar e trazer as pessoas para a norma heterossexual. A partir daí Andressa e Marcos começam a trazer uma discussão mais junto ao texto, discutindo o caso de Alexina/Herculine, trabalhado por Foucault e recuperado por Guacira no artigo em pauta. Nesse artigo Guacira retoma a fala de Foucault que questiona: “Precisamos verdadeiramente de um sexo verdadeiro?”. O aluno e a aluna começam a interrogar a turma: O que é verdade? O que é verdadeiro? E concluem que não existe a verdade, mas sim verdades. E, que as verdades são hierarquizadas, colocadas como uma verdade verdadeira em meio a relações de força e estratégias de poder que elegem uma determinada forma de verdade como uma verdade absoluta. E esta classificação de verdade diz também sobre as verdades sobre o sexo, instituindo verdades sobre o sexo e de como viver a sexualidade.

Andressa e Marcos dizem que tinham um outro vídeo muito interessante para trazer para a turma, mas como estavam sem internet iam dar prosseguimento a discussão do texto independente do vídeo.
Voltando ao texto, o aluno e a aluna apontam que o termo homossexual e a homossexualidade surgem da necessidade de explicar, identificar e classificar que emergem no século XIX. Só depois de cunhado o termo homossexual é que se inscreve o termo heterossexual e heterossexualidade. Marcos abordando a questão da verdade, fala das verdades religiosas, afirmando que em vários trechos da bíblia há verdades sobre questões de sexualidade que ainda hoje interferem nas formas de vivermos a nossa sexualidade, como é o caso dos Levíticos que dizem da não prescrição da masturbação. Ainda sobre as verdades sobre o alinhamento sexo/gênero/sexualidade discutiu-se sobre o uso do termo “mulherzinha” dirigido aos homens como forma de trazê-los para norma, uma vez que o uso desse termo nessas circunstâncias é utilizado como uma forma de amedrontá-lo quanto à destituição de seu gênero, como se ele não fosse um homem verdadeiro na medida em que se aproximasse pelas fronteiras do gênero. Discutimos também sobre o machismo presente no uso do termo “mulherzinha”, uma vez que chamar um homem de mulherzinha é como apontar que ser “mulher” ou “mulherzinha” fosse algo menor do que ser homem.

Na discussão sobre a homofobia Márcio e Andressa lamentam não terem conseguido passar o vídeo a que se propuseram no início da aula, uma vez que ele seria interessante para essa discussão. Márcio, então, traz uma vivência pessoal, na qual sua sobrinha fala com bastante tranquilidade sobre homossexualidade e heterossexualidade, a partir de uma conversa que teve na escola. Nesse momento percebemos que a internet havia voltado a funcionar e, assim assistimos ao primeiro vídeo que seria passado no início da aula.

Após o vídeo, Márcio e Andressa trazem as discussões sobre heteronormatividade e homofobia para o âmbito da escola, discutindo que a escola, como fazendo parte da sociedade, acaba por reproduzir e produzir acriticamente as desigualdades presentes na sociedade, quer seja através de discursos e posturas, quer seja pelos artefatos culturais a que utiliza, sejam livros, organizações de filas, chamadas dentre outros.

Tentamos ver o vídeo proposto pelo Andressa e Márcio (Gênero, sexualidade e heteronormatividade, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=8yfyFe145hU – Acesso em 08 de julho de 2013 ); mas o vídeo não estava carregando. Márcio disse que disponibilizaria o link do vídeo em seu blog e pediu para que víssemos o vídeo porque valeria a pena.

O aluno e aluna disseram que encontraram um interessante texto que trazia problematizações sobre o assunto em pauta e a escola. O texto é de Fernando Seffner, “Sigam-me os bons: apuros e aflições nos enfrentamentos ao regime da heteronormatividade no espaço escolar” (Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v39n1/v39n1a10.pdf - Acesso em 08 de julho de 2013). Este texto, segundo Márcio também estará disponível no blog em seu blog.  Desse artigo, Andressa e Márcio leram algumas narrativas que diziam da heteronormatividade/homofobia no espaço escolar, abrindo para discussões sobre as narrativas.
Em meio a estas discussões uma aluna trouxe um relato vivido por ela durante a semana que se passou: atuando como estagiária em uma escola pública da cidade, ela e uma colega da sala ficaram incumbidas de separarem as “prendas” para a festa junina; separando-as como coisas para meninas, meninos e unissex. Ele relatou que no meio da tarefa começou a problematizar o que estava fazendo, a partir de tudo que estava discutindo nas disciplinas sobre gênero e sexualidade (Professores Roney e Daniela) que estava cursando na faculdade. Incomodada com a situação, foi atrás da organizadora da festa para dizer de seu incômodo em separar os brinquedos por gênero. A resposta que recebeu é que esta separação sempre foi assim, e que era para continuar do jeito que estava. A aluna disse que a saída que encontrou foi colocar a maioria dos brinquedos como unissex, só mesmo as Barbies e os carrinhos e que não teve como colocar como unissex.

As demais alunas também deram inúmeros relatos vividos em seu fazer profissional e ou mesmo no cotidiano familiar, com relação às atividades de futebol, balé, capoeira, que se colocam na escola como atividades generificadas.

Na segunda parte da aula, Roney exibiu 5 pequenos vídeos:
- O primeiro é uma campanha publicitária: “Pelo direito a diferença”, na qual duas senhoras observado dois homens de mãos dadas acham um absurdo eles estarem de “camisa de manga curto num frio desses”. (Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=69nXT3kBLKY – Acesso em 08 de julho de 2013);
- O segundo é uma campanha publicitária a favor da união homossexual;
- O terceiro é uma reportagem sobre uma agressão de fundo homofóbico, dirigida a um pai que estava abraçado ao seu filho (vários vídeos no YouTube trazem esta reportagem);
- O quarto vídeo tratasse de uma campanha da ONU sobre os direitos LGBT, denominada: O Enigma: ONU contra a homofobia (Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=lpNE7D5avXo – Acesso em 08 de julho de 2013);
- E por último uma reportagem que discute cartazes homofóbicos com vieses religiosos que exaltam a relação homem/mulher como a única legítima referendada por Deus (Disponível http://www.youtube.com/watch?v=dNZXeUMNgmo – Acesso em 08 de julho de 2013)

Antes de discutir os filmes apresentados na segunda parte da aula, Roney volta ao primeiro vídeo passado na primeira parte da aula, perguntando para a turma sobre o que sentiram em relação ao filme “Shame no More”. Diante do silêncio, Roney perguntou se conseguiram se colocar no lugar das personagens do filme tidas como o diferente. As alunas deram seus relatos dizendo que não conseguiram se ver naquela posição apresentada no filme. Roney continuou problematizando o filme discutindo sobre a norma, o normal e a heteronormatividade.

Após essa discussão nos atemos aos cinco vídeos e a turma falou das suas impressões diante dos vídeos: a beleza das campanhas publicitárias, a simplicidade das duas senhoras diante de um casal de homens de mão dadas, da homofobia dirigida e sofrida também por heterossexuais...

Roney trouxe ainda uma folha com o seguinte título: “Discutindo sua relação com as sexualidades”. Nessa folha havia questões tais como:

1.    Se um garoto da sua turma começa a usar roupas consideradas de mulher e exigir que o chamem por um nome feminino, como você reage?
2.    Algumas pessoas veem duas meninas escondidas se beijando e espalham o fato para a faculdade. Qual a sua reação ao saber da notícia?
3.    Você acha que lésbicas, gays e bissexuais podem influenciar outras pessoas a se tornarem lésbicas, gays ou bissexuais?
4.    Como você se sentiria se descobrisse que um(a) dos(as) seus(suas) amigos(as) é homossexual?
5.    Você iria a um médico se descobrisse que é homossexual?
6.    Você se sente desconfortável na presença de homossexuais, com medo de que ele(a) tente dar em cima de você?
7.    Alguma vez você já esteve em algum bar, evento social ou marcha homossexual?
8.    Alguma vez já fez ou disse algo intencionalmente para que as pessoas pensem que você não é homossexual?
9.    Você tem amigos (e não conhecidos ou apenas colegas) homossexuais?
10.    Se seu melhor amigo ou amiga se declarasse apaixonado(a) por você, sendo ele ou ela do mesmo sexo que o seu, qual seria a sua reação?
11.    Qual sua reação ao ver um casal gay se beijando?
12.    Quando você presencia alguém sendo agredido por palavras ou fisicamente por ser gay, o que você faz?
13.    Você já cometeu algum ato que possa ser nomeado como “homofobia”?
14.    Você já foi vítima ou já presenciou algum ato que possa ser nomeado como “homofobia”?

Íamos lendo as perguntas e discutindo nossos posicionamentos. Algumas alunas traziam vivências pessoais. Uma aluna falou de um amigo de tempos de escola que foi se descobrindo transexual. Outra trouxe um relato de um aluno que queria ser chamado por um nome feminino, enfim vários foram os relatos.

Diante do relato sobre relações de gênero e sexualidade das crianças, Roney problematizou que antes de qualquer intervenção junto às crianças os professores e as professoras devem pensar e repensar as sua concepções de criança e de infância. Se acreditarem em criança como um ser que deve ser tutelado pelo adulto, desconhecendo a sua alteridade fica complicado uma intervenção que reconheça a criança como um ser em devir e passível de pensar e dizer sobre sua própria sexualidade. Como trabalhar com sexualidade na infância se acreditamos que a criança não sabe nada e não pode dizer sobre a sua própria sexualidade?

Ao final dessa discussão, a mesma aluna que na primeira parte da aula havia dado o relato da separação de prenda para meninos e meninas, relata que ao ir para o estágio, se deparou com duas meninas se beijando. Aí ela problematizou a sua própria formação, afirmando que se percebeu em transformação, revendo seus próprios conceitos e preconceitos. Ela afirmou que em outros tempos ficaria horrorizada com o beijo das meninas e que, em relação à separação das prendas, nem ia se dar conta do acontecido. Ela acredita que após a participação nas disciplinas sobre gênero e sexualidade, ministrados pelo professor Roney e pela professora Daniela, ela tem problematizado mais essas questões, tem se tornado uma “chata”, não aceitando com naturalidade as questões que dizem das relações de gênero e sexualidade. Algumas outras alunas, o Professor Roney, eu e Filipe também concordamos que estamos nos tornando “chat@s”; que se incomodar com questões referentes a naturalização e essencializações das questões de gênero e sexualidade é se tornar “chat@s”, nós somos sim, muito “chat@s”.

Discutimos como a violência tem sido usada como forma de trazer as pessoas para a norma, em função das agressões sofridas tanto por homossexuais como por heterossexuais em razão da homofobia.

A partir das perguntas lançadas discutimos os casos e as confissões sobre os sexos e as sexualidades. As alunas indicaram o filme: “Minha mãe é uma peça”, como uma comédia divertida que tem um quadro que trata dessas confissões e silêncios sobre a sexualidade.

O tempo nesse dia correu, e como forma de buscar um fechamento da aula, Roney interrompe as discussões sobre as perguntas (paramos na 4ª pergunta, de um total de 14) sobre nossa relação com as homossexualidade e passa a fazer um esquema no quadro para problematizar os termos homofobia e heterossexismo, como mecanismos da heteronormatividade. Roney aborda ainda a diferença de “liberdade de expressão” e dos “discursos de ódio”; ao final laça a pergunta: podemos dizer tudo?

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Registro da aula do dia 01 de julho de 2013


Por Filipe França e Zaine Mattos

As estudantes Mariana Gotti, Sabrina Simeão e Lílian Dalamura apresentaram o texto “Origens históricas da Teoria Queer”, escrito pelo professor Richard Miskolci.

Elas iniciaram a discussão fazendo uma apresentação do autor do texto. Richard Miskolci é um sociólogo brasileiro cuja obra articula a tradição das Ciências Sociais com os Saberes Subalternos (Teoria Queer, Estudos Pós-Coloniais e Teoria Feminista). O contato com a obra de Michel Foucault, de Lacan e de teóricos contemporâneos dos Estudos Culturais marcou sua formação. Doutor em Sociologia pela USP, fez parte de seus estudos na Universidade de Chicago, onde foi orientado pelo historiador cultural Sander L. Gilman, especialista em estudos que exploram as relações entre raça e sexualidade.

Em seguida elas trouxeram uma apresentação da teoria queer, destacando que o queer é um novo movimento político e teórico que emergiu do impulso crítico a “ordem sexual” na década 1960. A teoria queer se expandiu no meio das obras acadêmicas em diversos países como no Brasil, França e Estados Unidos. Elas lembram que o surgimento da AIDS esteve fortemente atrelado às práticas homossexuais. Nesse sentido surge a Queer Nation, que era uma parte da nação rejeitada pela sociedade e considerada abjeta, cujo significado está atrelado ao nojo e ao desprezo e ao “medo de contaminação”. Portanto, surge o queer, uma resistência ao novo momento biopolítico gerado pela AIDS.   A Queer Nation é proveniente “[...] da palavra queer, a nação anormal, a nação esquisita, a nação bicha” (MISKOLCI, 2012, p. 24). Vale a pena ressaltarmos que queer é um xingamento, é um palavrão em inglês, sim uma injúria. Como forma de ilustrar esse movimento, as estudantes mostram a imagem de duas mãos contendo o desenho de uma vagina e de um pênis.

Elas continuaram a discussão enfatizando que a teoria queer é diferente de homossexualidade. O queer se contrapõe às concepções que haviam marcado a ascensão dos novos movimentos sociais da década de 1960, como o movimento homossexual e sua bandeira do Orgulho Gay e em 1993  a parada do Orgulho Gay de São Francisco, EUA, adota o Queer como tema. O espírito político Queer é um regime de verdade pautado no que é normal e anormal, que critica os regimes de normalização, leva como perspectiva as diferenças e vê o poder como disciplinar/controlador. Foucault explica que o poder está em toda parte e opera também por meio de incitação dos sujeitos a agirem de acordo com os interesses hegemônicos,

Os estudos queer vão sofrer uma modificação a partir de 1990, com o lançamento dos três principais livros desta teoria: Problemas de Gênero (Judith Butler); One Hundred Years of Homosexuality- cem anos de homossexualidade (David M. Halperin) e A epistemologia do armário (Eve Sedgwick).

A teoria queer foi criada por feministas homens e mulheres e o movimento homossexual foi criado por homens. A teoria queer possui uma visão crítica sobre as normas impostas pela sociedade a respeito do gênero e da sexualidade e os estudos gays em sua maioria priorizavam um padrão de gay que a sociedade considera como “normal” que adotam uma postura masculina, geralmente de classe média, branco e que a sociedade considera como padrão, deixando a margem os excluídos que rompem com as normas de gênero.

As apresentadoras do texto trouxeram a seguinte questão para ser problematizada com a turma: As pessoas que adotam o padrão esperado pela sociedade sofrem menos perseguição? A partir dessa questão a turma pensou na marginalização das identidades abjetas e na perseguição aos meninos afeminados e às meninas masculinizadas. Em seguida foi exibido o trailer do curta metragem “Além das 7 cores” e o vídeo contendo a entrevista com a protagonista do filme, uma transexual que narra suas histórias de vida, com destaque para a relação dela com a família e a violência, lembrando o terrorismo cultural.

O professor Roney abriu uma discussão sobre o conceito de liberdade: Ela existe? Alguém é 100% livre? Muitas pessoas precisam se enquadrar na normalização para viver. Até que ponto sair do armário é uma imposição? Será que quem se assume homossexual é livre? A teoria queer pensa na possibilidade de todas as sexualidades serem visíveis. Ela problematiza a normalização. Os padrões de família e de casamento muitas vezes também são esperados dos homossexuais. O que importa para a sociedade é a sua identidade sexual. Nesse sentido, como  pensar numa pedagogia queer e num currículo queer? Significa pensar em processos educativos menos normativos.

Na segunda parte da aula o professor Roney exibiu o trailer do filme Milk e em seguida apresentou slides sobre a história do movimento social LGBTT.

Ele apresentou o significado da sopa de letrinhas do termo LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros) e argumentou que o sujeito LGBTT é um sujeito político que carrega consigo uma diversidade de questões, predominantemente relacionadas a gênero e sexualidade.

O início do movimento ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970 com a crescente radicalização e visibilização do movimento, alimentado por um discurso de autoafirmação e liberação. O marco do movimento homossexual foi a revolta de Stonewall. No Brasil a emergência do movimento se deu na passagem dos anos de 1960 para a década seguinte com o endurecimento da ditadura militar. O movimento LGBTT é composto por três ondas: de 1978 a 1983, de 1984 a 1992 e de 1993 aos dias atuais.

Primeira onda: Composta por propostas de transformação para o conjunto da sociedade, como a abolição de hierarquias sociais, especialmente as relacionadas a gênero e a sexualidade. Visava a politização da homossexualidade (contraposição ao “gueto”) x não afastamento dessa “base”. Propunha uma identidade coletiva composta pelo “homossexual ativista” e por uma “comunidade de iguais”. Contrapunha-se ao machismo e à dicotomia do “bofe” versus “bichas” ou mulheres, remetendo às relações desiguais e aos estereótipos que associavam a homossexualidade a “masculinizados” e a “afeminados”.

Segunda onda: aumento da visibilidade pública da homossexualidade. Continua a campanha pela despatologização. Eclode a epidemia de AIDS e com ela a necessidade de construção de uma resposta coletiva. Houve um crescimento dos casos da doença associado a demora de uma resposta governamental, que fez com que o movimento se responsabilizasse pelas primeiras mobilizações contra a epidemia. O movimento também desenvolveu uma ação mais pragmática, voltada para a garantia dos direitos civis e ações contra discriminações e violência. Surgem organizações mais formais, associações voltadas para os direitos dos homossexuais. A AIDS foi encarada como “peste gay” ou “câncer gay”, provocando a necessidade de construção de uma boa imagem pública da homossexualidade que permitisse a luta pela garantia de direitos civis. Surge a adoção do termo “orientação sexual”, de modo a deslocar a polarização acerca da homossexualidade pensada como uma “opção” ou como uma “condição” inata.

Terceira onda: Diferenciação de vários sujeitos políticos internos ao movimento (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), com foco em demandas específicas de cada um desses coletivos. Em 1995 há a fundação da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) que reúne cerca de 200 organizações. Aumento da visibilidade na mídia e na sociedade. O espaço alcançado nos meios de comunicação e a reação conservadora que se seguiu, deu início a um grande debate social nacional, aberto e amplo sobre os direitos LGBTT. Surgem os primeiros projetos de lei a favor dos LGBTT. A partir dos anos 1990 há um incremento significativo de pesquisa sobre sexualidade em várias áreas do conhecimento. Nos anos 2000 há a formação de grupos e núcleos de pesquisa voltados para a diversidade sexual nas universidades brasileiras. Aumenta a visibilidade da homossexualidade pelo processo de segmentação de mercado: casas noturnas, bares, revistas, companhias de turismo e da mídia voltados para o público “GLS”. Surge uma visibilidade massiva por meio da organização das Paradas do Orgulho LGBTT.

Em seguida o professor Roney exibiu um vídeo contendo uma entrevista com o deputado federal Jean Wyllys em que ele destaca algumas demandas atuais do movimento LGBTT como a aprovação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia.

Discutimos acerca dos movimentos e a política de identidades, enfocando na afirmação de uma identidade homossexual e o ato de assumir-se ou ficar enrustido como posturas definidoras do sujeito. Uma política pós-identitária consiste em assumir o pensamento queer, considerar o impensável e o que é proibido de pensar.

Referência:
MISKOLCI, Richard. Origens históricas da Teoria Queer. In: MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica: UFOP, 2012.

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Relato da aula do dia 24 de junho de 2013



Por Filipe França e Zaine Mattos

Discussão do texto “A homossexualidade e a perspectiva foucaultiana”. As alunas responsáveis pela apresentação do texto foram Carla Vieira e Cristina Assis. Cristina explicou que Carla participou do estudo do texto e da elaboração da apresentação, mas que, por motivos profissionais, irá trancar a disciplina e que talvez não viesse para apresentação do texto (o que acabou acontecendo).

Cristina faz uma apresentação do texto destacando pontos importantes como: sexo biológico, gênero e identidade sexual; modo de vida homossexual; sexo como uma construção cultural; dispositivo de sexualidade... Nesse momento da apresentação, Roney fala da homossexualidade a partir dos estudos de Foucault, pensando na estética da existência e da amizade, como um modo de ampliar a reflexão das construções de identidades, no sentido de escapar do dispositivo da sexualidade.

A aluna prossegue a apresentação trazendo os três mitos discutidos por Britzman (e trabalhados pelo texto apresentado). Segundo Britzman os mitos emergem como forma de manter a heterossexualidade como hegemônica e posicionando a homossexualidade como desviante. 

A discussão na sala voltou-se novamente para pensar as várias formas de ser, pensando na pluralidade sexual e na amizade como forma de se relacionar e existir. Discutimos também sobre a homossexualidade ser construída na cultura ou não. Conjecturamos que este é um campo em disputa. Roney fala da amizade para além do sexo (penetração), como uma sexualidade mais ampla, ancorada em uma forma de existir. Fala ainda da ascese, que seria um trabalho sobre si mesm@ que vai além da norma estabelecida, direcionada para uma estética da existência.

Sobre o dispositivo da sexualidade, discutimos que o que nos define é o objeto de desejo, tanto os héteros quanto os homossexuais estão capturados por esse dispositivo. E, são esses dispositivos que atuam no enquadramento das pessoas. Quando as pessoas não se enquadram nas normas estabelecidas, deixam os demais confusos, não sabendo como lidar com a situação, o que pode reforçar um enrijecimento de forças para direcionar os “anormais” à norma. Roney chama a atenção para o fato de só procurarmos explicações para o que foge da norma; não se busca explicação para a norma, para o “normal”. Por exemplo, ninguém pergunta como se torna hetero, ou quando o outro se percebeu hetero.

Roney esclarece que a palavra homossexual surge primeiro que a palavra heterossexual. A palavra homossexual surge no século XIX, como “homossexualismo”, dentro do campo médico, utilizando-se o sufixo “ismo” para designar o desejo pelo mesmo sexo como uma doença. O heterossexual surge mais tarde para se diferenciar dos sujeitos homossexuais. Quando se dá nome, institui-se o sujeito; a utilização do termo homossexual cria o sujeito e o descreve.

Com o término da apresentação de Cristina, Roney pergunta se tem algum termo ou expressão que as alunas necessitavam de esclarecimento. Uma aluna pergunta pelo termo “homoerotismo”. Roney diz que o uso do termo homoerotismo é utilizado para dar ênfase ao desejo e não ao saber/classificação médica. Mas do que uma classificação da sexualidade o termo homoerotismo foca o desejo.

Na segunda parte da aula, Roney, valendo-se de slides, cujo o título inicial  era “Sexualidades: construindo ideias”, provoca a turma com uma imagem de escovas de dentes reproduzindo atos sexuais de seres humanos. Ele pergunta ao grupo: o que vocês estão vendo nessa imagem? As alunas se entreolham, umas riem, outras parecem encabuladas, até que uma arrisca: “Há, eu to vendo duas escovas, uma perto da outra... nada demais... sou inocente mesmo...” aí ela solta uma gargalhada e completa: “mentira gente, heheh eu não sou tão inocente assim, heheh, eu tô vendo umas escovas reproduzindo atos sexuais... heheh”. Roney então problematiza a sexualidade como construção e dá prosseguimento a aula trazendo quatro questões : 1 – Sexualidade é “natural”?; 2 – Sexualidade: há definição?; 3 – Sexualidade é aprendida?; 4 – Identidades Sexuais.

Sobre a questão 1 – Sexualidade é natural? Roney argumenta que a sexualidade tem sido “interpretada” como um aspecto “natural” do ser humano (um componente “bio”), uma “essência”, algo com o qual o ser humano nasce e que se desenvolve ao longo da vida. Contudo, para problematizar este entendimento Roney traz alguns argumentos que se chocam com esse pensamento. Segundo Roney, sexualidade não é o mesmo que sexo. Sexo são diferenças anatômicas e fisiológicas que caracterizam humanos e animais como machos e fêmeas, atribuindo-lhes “papéis” diferentes na procriação. Roney acrescenta que o conhecimento biológico (científico) é, antes, um conhecimento cultural, social e histórico; sua produção e circulação respondem as questões que são contextuais e que remetem ao modo como os discursos passam a instituir-se como verdadeiro, servindo a determinados interesses que são contingentes e interessados. Roney exemplifica, lembrando de como o conhecimento científico foi construído em determinada época para justificar as verdades que Hitler queria comprovar. Continuando, Roney passa a discutir o termo “sexualidade”, problematizando que não nascemos com uma sexualidade pré-determinada; tornamos-nos sujeitos sexualizados. A sexualidade é uma produção da cultura e não um instinto biologicamente determinado.  Sentidos, significados, concepções e crenças sobre sexualidades são construções culturais, sociais e históricas, não são dados da natureza. Sendo construída na cultura, somos levados a pensar em sexualidades. Os modos como nos fazemos sujeitos sexualizados e como construímos experiências das sexualidades são plurais. A construção das sexualidades envolve relações de poder que instituem práticas e comportamentos legítimos e ilegítimos, normais, anormais... ou seja, com estes argumentos Roney nos levou a problematizar que a sexualidade é um elemento construído na e pela cultura e não um dado natural.

Sobre o item 2 – Sexualidade: há definição? Roney argumenta que as sexualidades envolvem rituais, símbolos, modos de ser e de experimentar os prazeres... e, o modo como experimentamos e vivemos os prazerem, os desejos e as fantasias, são afetados por relações de poder. Segundo Foucault o dispositivo histórico é uma invenção social, portanto, podemos perceber múltiplos discursos sobre o sexo e sexualidade, “discursos que regularizam, que normatizam, que instauram saberes, que produzem verdades” (LOURO, 2001, p. 12). Os discursos e práticas sobre sexo e a sexualidade instituem normas de disciplinamento dos desejos, dos sentimentos, dos prazeres, dos corpos e das práticas sexuais. Segundo Foucault, as práticas sexuais foram relegadas ao âmbito privado “ao quarto do casal”, posicionando o sexo como um assunto delicado, do qual não se pode falar publicamente. Ao longo do século XIX, os especialistas surgem como os autorizados a falar de sexo, delimitando determinados comportamentos como desviantes, anormais e pecaminosos. Alguns desses entendimentos pensam a sexualidade como diretamente ligada a reprodução, o que institui uma naturalização da heterossexualidade e da reprodução como função primordial das relações de conjugalidade monogâmica. No entanto observamos uma dissociação progressiva desses termos nos últimos tempos. Ainda nesse item de discussão sobre uma suposta definição da sexualidade, Roney aborda sobre as sexualidades femininas e masculinas, apontando que tradicionalmente a sexualidade feminina vem sendo construída como passiva e dirigida ao prazer dos homens, o que vem anunciando mudanças a parti da segunda metade do século XX, sobretudo pelas discussões construídas pelos movimentos sociais; invenção da pílula contraceptiva (controle do processo reprodutivo oportunizando se pensar o sexo por prazer). O surgimento da AIDS também se mostra como um importante evento de deslocamento das normas que regiam o sexo e a sexualidade na atualidade, criando saberes e alterando as relações de poder que passam a normatizar o “sexo seguro”. O conjunto desses eventos, dentre outros, que dizem sobre o sexo e a sexualidade oportunizaram a pluralização das identidades sexuais na atualidade.

Sobre a questão 3 – Sexualidade é aprendida? Roney argumenta que a nossa sexualidade se constitui a partir de um intenso, sutil e contínuo aprendizado. E os aprendizados são orientados pela cultura de cada época. Nos dias atuais os enunciados sobre a sexualidade vêm apontando para uma relação de consumo, como se as pessoas tivessem que “viver intensamente a sua sexualidade”, como se consumissem a sexualidade como um produto para a satisfação pessoal. Nesse momento passamos a discutir as homossexualidades como compondo um debate de busca pelo prazer. Uma aluna questiona a questão da “opção” sexual, nisso problematizamos que não se trata de uma escolha consciente de direcionamento de desejos e prazeres, mas de uma constituição do sujeito que o direciona a desejar alguém do mesmo sexo; portanto não se deve falar de “opção”, mas de orientação sexual. Discutimos também sobre as confusões que fazemos entre “gênero” e “sexualidade”: na infância, a questão maior que nos interpela nas escolas tem haver com as questões de gênero e não de sexualidade.

Por fim, Roney, traz as discussões sobre o item 4 – Identidades sexuais, fazem um paralelo com o cotidiano escolar. A turma traz várias situações de sala de aula relatando situações dos brinquedos e dos artefatos femininos e masculinos que exigem um repensar de como a professora e o professor lida com essas questões das identidades sexuais na escola. Uma aluna trouxe uma interessante experiência, na qual a professora, para problematizar a questão dos brinquedos de meninas e de meninos, organizou com sua turma o “Dia de brincar de boneca”, no qual todos os alunos tiveram a oportunidade de brincar de bonecas como uma possibilidade real que pode abarcar meninos e meninas. Falou-se também do “Dia de Brincar de Circo”, no qual todas as crianças, meninos e meninas, tiveram a oportunidade de se maquiarem sem serem reprendidos por essa atitude.

Referência:

LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 9, n. 2,  p. 541-553, 2001.


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Registro da aula do dia 17 de junho

Por Filipe França e Zaine Mattos

A primeira parte da aula de hoje foi dedicada à produção textual individual abordando as discussões feitas na disciplina até o presente momento.

A primeira discussão da atividade textual foi ilustrada por uma tirinha do cartunista Laerte. Nessa tirinha ele problematiza a questão dos banheiros para pessoas trans. Logo abaixo o professor Roney colocou algumas questões para provocar a escrita. Seguem as questões:

Para a sociedade: gêneros binários. Ou homem, ou mulher. Ponto final. Ponto final? Para muitos sujeitos há multiplicidade de possibilidades dos gêneros. Atravessar fronteiras, romper limites. Ou estar na fronteira. Exatamente ali, no entre. Homem e mulher, no mesmo sujeito. pode? Transgêneros, transexuais, travestis... Sujeitos que atravessam os gêneros ou que se colocam exatamente na fronteira dos gêneros estabelecidos. Situações que acontecem na sociedade e que vemos nas escolas: qual banheiro usar? Quem deve determinar isso? Que nome na carteira de identidade? Que nome na chamada? O que isso implica? Direitos, inclusão, possibilidade do sujeito não sofrer violências devido à sua identidade de gênero.

A segunda discussão da atividade textual contou com a ilustração de uma história da “Turma da Mônica” que retrata o personagem Cebolinha e seu pai realizando atividades domésticas. Ao lado o professor Roney fez algumas considerações:

O que determina que sejamos mulheres e homens? Os genes? Os hormônios? O cérebro? Mulheres subalternizadas em uma sociedade “masculinocêntrica”. Subjugação, inferiorização, marginalidade (estar à margem), violência. Direitos, participação política. Questões consideradas “íntimas”, “privadas” ganham visibilidade, se tornam questões a debater, a pesquisar, a reivindicar. Feminismo! Movimento de mulheres? Quais mulheres? Só mulheres? Para quais mulheres? Falar de gênero é falar de mulher? A invenção do conceito de gênero: categoria relacional, política e analítica. Relações de poder na sociedade. Feminismo é contrário de machismo? Separações, distinções, exclusões em função do gênero: e quem não se enquadra nos moldes? Meninas sempre delicadas, emotivas, calmas, passivas? Meninos sempre agressivos, duros, protagonistas? Que educação produz meninos e meninas?

Na segunda parte da aula o professor Roney discutiu com @s alun@s sobre a experiência da produção da atividade textual. Algumas alunas relataram a dificuldade em registrar na forma escrita aquilo que se pensa e parar para escrever o que se está pensando. O professor Roney destacou que a produção escrita não é a única forma de avaliação da disciplina. A avaliação ocorre no dia a dia, durante as discussões.

Em seguida o professor Roney propôs a construção de conceitos sobre a sexualidade. Primeiramente cada alun@ escreveu em um pedaço de papel a primeira palavra que veio em seu pensamento ao ver no quadro a palavra sexualidade. Depois de escrever no papel, @s alun@s se levantaram, andaram pela sala para ver a palavra que cada um/uma escreveu e formaram grupos com quatro pessoas para construírem um conceito de sexualidade a partir das palavras escritas por cada um/uma.

O primeiro grupo continha as palavras escolha, homem/mulher, amor e corpo. El@s formaram o seguinte conceito de sexualidade: A sexualidade não é algo inato, ou seja, pré-determinado. É uma questão de escolha, que um homem ou uma mulher fazem. Tal escolha se dá através do amor próprio e da aceitação, ou não, do seu corpo.

O segundo grupo continha as palavras gênero (2x), identidade, escolha, heterossexual e homossexual. El@s formaram o seguinte conceito de sexualidade: A sexualidade está ligada ao gênero, sendo ela uma escolha, podendo ser heterossexual ou homossexual, respeitando a identidade de cada gênero.
O terceiro grupo continha as palavras opção sexual individual, direito, escolha, prazer, relação e relacionamento. El@s formaram o seguinte conceito de sexualidade: A sexualidade é um direito de escolha por uma opção sexual individual que parte da relação entre as pessoas. Dessa forma, as pessoas poderão ter um relacionamento com o prazer de se sentirem realizadas.
O quarto grupo continha as palavras gênero (2x), padrão, polêmica e mudança. El@s formaram o seguinte conceito de sexualidade: Gênero não determina a sexualidade e não pode ser considerado um padrão, pois isso gera uma polêmica com relação à mudança no contexto sócio-histórico-político da visão homem/mulher. Portanto, gênero é uma construção de identidade.
Após a construção desses conceitos, uma aluna aponta a sua dificuldade de lidar com o conceito de transexualidade. O professor Roney então aponta que a transexualidade não é uma questão de sexualidade e sim uma questão de gênero.
Finalizando a aula, o professor Roney destaca a importância de ler o texto indicado para cada semana e trazer para a discussão questões que vão além dele.

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Registro da aula do dia 10 de junho de 2013

Por Filipe França e Zaine Mattos


Discussão do texto 4: “Despatologização do gênero: a politização das identidades abjetas ” de autoria da Prof.ª Berenice Bento e da Prof.ª Larissa Pelúcio
Texto discutido pelas alunas Edilaine, Fernanda e Taís.

O referido texto trata das questões políticas e sociais que envolvem a transexualidade e a travestilidade e que muitas vezes são tratadas como doenças ou transtornos mentais. As autoras abordam iniciativas que apontam para o fim de diagnósticos em relação ao gênero.
Edilaine fez uma apresentação pontual da primeira parte do texto, trabalhando a Introdução e a seção “Gênero como categoria diagnóstica”.
Logo após, Fernanda trabalhou as seções: “Resistência contra a patologização: o gênero politizado” e “Quem são os/as normais e os/as transtornados/as de gênero?”.
Taís organiza a sua fala abordando os argumentos desenvolvidos pelas autoras em torno da despatologização dos gêneros: “Argumento I – Diferença natural entre os gêneros”; “Argumento II – A visão suicidógena”; “Argumento III – Concessões estratégicas”; “Argumento IV – A autoridade científica”.
Fernanda retoma a apresentação feita pelo grupo trazendo a considerações finais do texto: “Perguntas impertinentes para reflexões necessárias”.
Para finalizar, as alunas apresentam um vídeo sobre a ex-BBB Ariadna.
Terminado o vídeo as alunas abrem o debate para a turma.
A turma passa, então, a se reportar às vivências pessoais e reportagens que se referem a assuntos ligados as travestis e transexuais. Uma aluna menciona o filme “Ma vie en rose”. A discussão gira em torno da resistência da sociedade em aceitar e/ou compreender as pessoas que não se conformam ao padrão normativo sexo/gênero/sexualidade naturalizado como um corpo macho, correspondendo a um gênero masculino e corpo fêmea correspondendo a um gênero feminino, com orientação heterossexual.
As alunas relembram as reportagens de Léa T, de uma prefeita, e de outros casos divulgados na mídia, apontando para os preconceitos e para as curiosidades que rondam esses casos. Discutem também a questão do nome social x nome de registro.
Filipe levanta um questionamento sobre o termo “abjeto”, perguntando à turma se pesquisaram sobre o termo e o que compreendem sobre ele. Edilaine diz que pesquisou e responde a Filipe. Filipe retoma a questão e amplia com a discussão sobre as identidades abjetas.
Terminada a fala de Filipe a turma se envolve em um profundo e longo silêncio. Roney observa o silêncio da turma com um olhar interrogativo, após alguns minutos pergunta: ‘’Tod@s leram o texto?”. Um aluno responde: Confesso que não li. Roney olha atentamente para turma e pergunta ainda: para quem leu, eu gostaria de saber qual foi a experiência de ler  o texto? Como foi este processo? O que pensaram para além dele?...
Uma aluna disse que leu com “um olhar preconceituoso”, pensando mesmo em transtorno como apontada pela Ariadna na entrevista. Outra aluna disse que sua relação com o texto se deu perpassado por certa curiosidade sobre o assunto.
Roney volta-se para a turma expondo sua preocupação com o esvaziamento da aula (além das três alunas que apresentavam o texto, havia seis alunas no início da aula chegando mais um aluno e uma aluna). Ele supõe que o esvaziamento pode ter se dado ao fato da turma não ter lido o texto que embasa a aula. Uma aluna acredita que o esvaziamento pode ser devido ao feriado da semana que precedeu a aula. Roney pensa não ser este o motivo e convida a turma a repensar a sua relação com a disciplina; disse que fazer a disciplina sem a leitura de um texto que a embase corre-se o risco de ficar no senso comum e nas reportagens mais descompromissadas divulgadas pelos meios de comunicação. Afirmou, ainda, que não era essa a proposta da disciplina. Roney falou da importância de ler o texto com profundidade, indo além dele, pesquisando os termos mais complicados, reportando-se a outros autores e vídeos, enfim, estudar com sagacidade e compromisso.
Roney, então, passa a fazer uma exposição mais comprometida do texto, indo para o quadro e trazendo para a turma a sua pesquisa para além do texto, expondo termos técnicos e discussões sobre sexo, gênero e sexualidade, bem como discute o porquê de em uma disciplina sobre Gênero/sexualidade/educação se discutir transexualidades e travestilidades. Roney retoma as primeiras aulas nas quais foi discutido as questões das masculinidades e das feminilidades demonstrando que ainda na presente aula essas discussões estão em pauta só que agora abordando os rompimentos/atravessamentos de gênero, pensar nos sujeitos que se encontram na fronteira dos gêneros. Roney discute os termos “patologizar”, “despatologizar”, os saberes médicos e das ciências “psi”, as codificações dos transtornos. Discuti ainda a patologiação das pessoas para além dos gêneros como os TDAH dentre outros.
Roney problematiza: Por que a sociedade encara as identidades que se desviam da norma como problema? Qual o motivo dos estranhamentos? Baseado em que padrões? Os biológicos?
Roney prossegue a aula discutindo o sistema sexo-gênero-sexualidade, abordado por Judith Butler, no qual se direciona o indivíduo para uma expectativa de gênero, pensada como natural ou pré-determinada.
Roney fala, ainda sobre intersexualidade e transexualidade, discutindo como as pessoas “trans” se colocam ou são posicionadas nesse sistema de destino “natural” de sexo, gênero e sexualidade. Essas identidades rompem com o biológico, vão na contra mão de naturalizar o gênero. Para os sujeitos “trans” o destino “natural” ou pré-determinado não existe, eles rompem com o sistema sexo-gênero-sexualidade.
A turma levanta questões e discute sobre o uso do sufixo “ismo” como um indicativo de doença no campo médico; questões de cirurgias de readequação de gênero. Roney volta ao texto e problematiza sobre a decisão de fazer a cirurgia de readequação de gênero que deve ser uma decisão do sujeito e não do Estado.
Roney traz algumas discussões da Teoria Queer indicando que o sistema sexo/gênero/sexualidade é uma grande “furada”, que ele não se sustenta.
Após longa explanação, recheada com vários exemplos, Roney aponta que ser homem ou ser mulher não depende de ter um pênis ou uma vagina/vulva, mas sim da cultura na qual os seres estão submersos.
Apontando para o encerramento da explanação Roney, nos convida a pensar com Foucault, sobre nossos modos de existir no sentido de nos posicionarmos frente a tudo que foi discutido durante a aula: ou nós simplesmente “fingimos” que nada foi falado, não nos deixando tocar pela aula, ou ao contrário, passamos a refletir sobre tudo que foi dito, apontando para uma desconstrução de conceitos cristalizados, pensando em outras formas de existir e habitar o mundo. Tudo isso pensado como escolhas éticas em relação a nós mesmxs. Segundo Roney, o objetivo da disciplina não é ensinar como trabalhar a sexualidade, mas em pensar o que cada um/uma faz com o que é discutido; não é trabalhar as sexualidades como natural, mas em como elas se constituem. O objetivo não é mostrar como resolver os “problemas” que envolvam a sexualidade na escola, mas antes disso, pensar em como nós mesmxs nós relacionamos com as sexualidades. Uma postura interessante talvez seja ir para a escola ouvir as crianças sobre elas mesmas sem uma preocupação em diagnosticá-las e enquadrá-las.
Roney apresenta o vídeo “Tabu Brasil”, da National Geographic. O vídeo trás o caso de três brasileirxs que nasceram biologicamente com um sexo, mas que psiquicamente têm uma identidade de gênero diferente da conformação corporal.
         Após o vídeo abriu-se para debate. Debateu-se que todxs nós interferimos de uma forma ou de outro em nossos corpos (pintamos unhas, cabelos, depilamos, malhamos...), mas o estranhamento com as trans é que elxs alteram partes “sagradas” do corpo, elas rompem com o sistema sexo/gênero/sexualidade. Discutimos que para além de se pensar nas trans como uma doença, ou mesmo um transtorno, devemos pensá-las como uma forma de existir, de ser e estar no mundo. O debate foi encerrado com a discussão sobre o cartunista Laerte, que se coloca na fronteira dos gêneros, como uma das muitas possibilidades de ser no mundo.
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Registro da aula do dia 03 de junho de 2013

Por: Filipe França e Zaine Mattos


Discussão do texto 3: “Gênero, sexualidade e poder” de autoria da Prof.ª Guacira Lopes Louro.
Texto discutido pelas alunas Alice e Aline.

Alice e Aline fizeram uma busca por imagens sobre o poder e trouxeram duas delas para desfechar a apresentação. Elas iniciaram a discussão problematizando os estudos feministas; os silenciamentos, submetimentos/opressão e a emergência nos últimos anos de novos debates sobre as concepções de poder propostas por Michel Foucault.

Foucault desorganiza concepções convencionais e propõe o poder como uma rede construída por toda a sociedade que deveria ser concebido como estratégia, não como privilégio que se possui ou apropria. Foucault vê o poder não apenas como coercitivo e negativo, mas como produtivo e positivo. Os gêneros se produzem nas e pelas relações de poder, seja pelo poder disciplinar, pelo biopoder ou por ambos.

Após a apresentação da primeira parte do texto feita pela aluna Alice, Roney faz algumas intervenções a fim de resgatar, ressaltar e discutir alguns pontos importantes. Roney discorre sobre os estudos foucaultianos trabalhados por Guacira Louro ao longo do texto. Situa os estudos de Guacira dentro das produções dos Estudos de Gênero e logo após provoca o pensamento das alunas sobre qual a relação entre gênero e poder discutida por Guacira. As alunas e o aluno fazem suas colocações. Roney ouve atentamente fazendo inferências sobre as discussões, recorrendo, ora ao texto estudado, ora citando outros estudiosos de gênero. Nessas colocações, exemplos observados na vida cotidiana são trazidos para o debate, quer sejam das salas de aula ou de outros espaços vivenciados.

Roney pergunta a turma se havia alguma palavra ou expressões que elas/eles não tinham entendido ou que elas/eles sentiam necessidade de algum esclarecimento. Uma aluna ressalta a expressão “onde há poder há resistência”. A aluna queria um esclarecimento mais pontual sobre esta expressão.

Roney explica que o poder se dá na relação, exercendo-se nos dois polos da relação, como num jogo de forças. Chama a atenção para as palavras “relação” e “exercício”, o que nos distancia do entendimento de poder como algo que se detém. Roney faz um contraponto com o pensamento binário que se estabelece na concepção de “oprimido” e o “opressor”, que por sua vez pode camuflar as resistências que se dão nas relações de poder. Pensar o poder como relação evidencia tanto o poder, como as resistências e as liberdades que se fazem nessas relações. Roney dá vários exemplos de relações de poder, nas quais ele chama a atenção para as resistências presentes nessas relações. Esclarece através dos exemplos que não há uma exterioridade da resistência, a resistência está na relação. Roney diferencia está forma de perceber o poder de outras perspectivas teóricas que pensam a resistência como algo exterior, como por exemplo, as perspectivas que acreditam que alguém ou algo vá salvar o oprimido.

Mais uma vez Roney provoca a turma com a pergunta: O que vocês compreendem por “O poder não é só negativo, ele é produtivo”. A turma, juntamente com o professor, vai resgatando pensamentos foucaultianos e exemplos do dia a dia evidenciando a capilaridade do poder, do exercício de poder nas micro relações  que produzem subjetividades e posições de sujeito.

Após longo debate, segue-se a apresentação da segunda parte do texto “Diferenças e desigualdades: afinal quem é diferente?, exposição feita pela aluna Aline. As alunas trouxeram a frase “E viva a diferença!”, fazendo a seguinte provocação: o que esta frase pode significar?

O debate girou em torno de pensar a frase como podendo significar a diferença como celebração e como naturalização da diferença. Ressaltando-se a necessidade de desconfiar dos discursos que celebram a diferença sem um posicionamento crítico sobre ela.

Travamos discussões sobre os seguintes temas: Igualdade ou diferença? Quem é considerado diferente? O que é normal e o que é diferente? A diferença é construída pelos sujeitos, ela não está dada de antemão. Nessa construção há relações de poder. São os acontecimentos históricos e culturais que vão estabelecendo as diferenças.  A construção das feminilidades e das masculinidades são projetos que estão dentro de expectativas.

Logo após, as alunas trouxeram imagens para discutir as diferenças em relação ao gênero e ampliaram o debate para os outros marcadores sociais como raça, classe, orientação sexual (dentre outros) que constroem as diferenças. Discutiu-se sobre a questão da equidade e da igualdade na diferença, bem como a questão da hierarquização dessas diferenças. Duas questões permearam as discussões: O que é normal e o que é diferente? Quem é considerado diferente?

O professor intervém pontuando que a diferença é produzida, o “viva a diferença” pode direcionar para uma naturalização das diferenças, obscurecendo a produção da diferença e a sua hierarquização. “Viva a diferença” pode camuflar a produção da diferença que é uma construção social e cultural. Igualdade não pode ser dicotomicamente colocada em relação à diferença. Trazendo a discussão para a questão dos estudos da mulher, o professor enfatiza que num determinado momento de nossa história foi preciso marcar a categoria “mulher”, no sentido de se fazer leis, trazer a tona as especificidades da mulher, mas dentro dessa categoria havia outras mulheres que não estavam ainda representadas nessa categoria universalmente recortada. O universal em outro momento dá espaço ao múltiplo, para a multiplicidade do ser mulher, como ser mulher negra, lésbica, operária, dentre outras categorias. O debate se seguiu para a discussão desse tema junto às escolas e outros espaços vivenciados pelos/pelas participantes.

Roney pontua que o diferente é sempre o outro. A norma não é pensada com odiferente, não é problematizada. Em alguns momentos é importante demarcar a diferença, pensar como ela se constitui, mas às vezes temos que sair dela para não ratificar e exaltar a norma.

Discutimos sobre a submissão e o submetimento nos dias atuais. Falamos do discurso religioso como uma possibilidade de identificação dos sujeitos, mas ressaltamos os perigos desses discursos se pretenderem e se colorem como hegemônicos e dogmáticos. Por fim discutimos que o objetivo não é acabar com as diferenças as com as desigualdades, mas problematizá-las.

Na segunda parte da aula foram exibidos dois vídeos: “O riso dos outros”, de Pedro Arantes e um vídeo abordando a violência contra a mulher, produzido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O primeiro vídeo discutia a questão de “piadas” misóginas e machistas e ressaltava a questão: “Você precisa saber de que lado você está dessa piada”. Discutimos sobre o que possibilita que “comediantes” possam fazer piadas com conteúdos preconceituosos. Nesse momento uma das alunas relembrou uma aula anterior na qual discutimos sobre o que possibilitava o funkeiro Mister Catra fazer um discurso sobre a sua poligamia. Discutimos sobre as condições de emergência dos discursos. Dialogamos também sobre questões como “liberdade de expressão” & “discursos de ódio”, ou “discursos de hierarquização de sujeitos”, pensamos que uma coisa é “liberdade de expressão”, outra coisa são discursos que hierarquizam e desmerecem os sujeitos. Nesse debate pensamos que temos que buscar um sentido que não seja um “pode tudo”.

Em seguida discutimos a partir da seguinte questão: “Você já sofreu preconceito em função do seu gênero?”

A turma trouxe relatos de preconceitos vividos. Após esses relatos o Prof. Roney trouxe problematizações acerca do sexismo, machismo e misoginia; violência de gênero e violência contra a mulher; Lei Maria da Penha, lei 11.340/06, que entrou em vigor em 22 de setembro de 2006 e alterou o código penal brasileiro, aumentando o rigor nas punições contra a mulher.

A partir dessas colocações discutimos a violência contra a mulher pensando sobre os paradoxos discursivos que condenam certas práticas de violência contra a mulher, mas ao mesmo tempo as possibilitam, como é o caso de se criar leis de proteção à mulher e ver veiculados nos meios de comunicação e nos discursos do dia a dia, piadas e falas que naturalizam agressões contra a mulher.

Para finalizar a aula, foi exibida uma reportagem do programa Fantástico retratando a violência contra a mulher.


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Registro da aula do dia 27 de maio de 2013


Vanessa Almeida Stigert
Thayane Viana Fonseca

No dia 27 de maio do ano de 2013 alunas do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Juiz de Fora junto ao professor Roney Polato e seus parceiros de pesquisa estavam presentes em mais uma aula da disciplina sob o título de “Tópicos especiais: Gênero, Sexualidade e Educação”. Nesse dia as alunas Letícia e Nayara foram as responsáveis por conduzir a discussão do texto “A emergência do gênero”, que foi o segundo texto disponibilizado à turma ao decorrer da disciplina já mencionada.
Ao dar início a discussão do texto, Nayara falou sobre a dificuldade em entender alguns termos utilizados pela autora do texto. Após isso, disse que ficou assustada ao descobrir por meio do texto que a palavra “Gênero” sobre a perspectiva que estamos discutindo na disciplina, não é dicionarizada. Assim, a aluna relatou brevemente a trajetória do feminismo de acordo com as duas ondas feministas, e outra curiosidade que elas relataram é que os primeiros movimentos eram compostos por mulheres da classe alta. A partir disso, Letícia falou sobre a invisibilidade da mulher na sociedade. Também falou sobre a subordinação da mulher nos locais em que ela está inserida. Durante a fala de Letícia algumas alunas deram exemplos sobre os diferentes tipos de subordinação. Roney lembrou que a “assistência” está muito ligada a mulher, como os cursos de graduação, onde vemos que a maioria dos discentes são mulheres. A aluna Rita falou que além do preconceito contra as mulheres há ainda a descriminação com as mulheres de maior idade. Para complementar a discussão já iniciada as alunas responsáveis pela orientação do texto levaram imagens que revelam a subordinação questionada pela autora do texto.
Referente a isso as alunas Nayara e Letícia disseram que a autora não nega as diferentes biológicas entre o homem e a mulher. Porém, ela não fica “presa” e essas características. Logo, as alunas também falam sobre a diferença entre sexualidade e gênero. Ao encontro dessas diferenças também existem as identidades sexuais que estão diretamente ligadas ao uso do corpo e a maneira como as pessoas vivem sua sexualidade. Já diferente disso existem as identidades de gêneros que estão voltadas as maneiras como as pessoas se veem, se constituem e se representam, sejam como homem ou mulher. Outra preocupação da autora, segundo Nayara e Letícia, é  a presente dicotomia entre homem e mulher. Segundo as alunas a autora defende que tais gêneros não podem ser considerados como excludentes e sim como dependentes e se inserem um no outro, sendo que ambos são importantes para a sociedade. Para auxiliar a discussão dessas diferenças foi disponibilizado pelas alunas via data show imagens sobre as diferenças, preconceitos às mulheres e a imposições de gênero na sociedade. 
Ainda sobre as diferenças de gênero tivemos acesso as informações de origem e reivindicações sobre a marcha das vadias. Nayara e Letícia levaram também notícias sobre a marcha em São Paulo e todas as lutas oriundas desse movimento. Fora isso, elas nos mostraram uma imagem da marcha que tinha um cartaz com uma frase que Nayara disse resumir o que a autora abordou no texto por nós estudado “Elas estão nuas e cobertas de razão”. No fim da aula, o professor Roney deu continuidade a esse tema. Disse que terá a Marcha em Juiz de Fora e que todas estão convidadas a reivindicarem seus direitos junto ao movimento.
Com o fim da exposição do texto feito pelas alunas, Roney levantou algumas questões sobre o tema debatido no dia. Perguntou o que a autora do texto quis dizer ao falar que uma pessoa pode perder seu gênero. Vanessa disse que muitas vezes essa perda está ligada ao fato de algumas pessoas terem aspectos relacionados ao gênero oposto e assim ser considerada “Maria homem” ou “Homem mulherzinha” e outros. A aluna Fernanda disse que se você não é nenhum dos dois gêneros existentes você teve a “perda do gênero”. A partir disso surgiu um debate sobre o machismo e as posições sociais sobre o que é feminino e masculino. Fora isso, algumas pessoas mencionaram a presença do preconceito com os homessexuais. Roney destacou que associam-se a homossexualidade com a perda do gênero e que a homofobia reforça o preconceito de forma que a intenção desse movimento é que um sujeito “volte” ao gênero que deveria ser a princípio. Além disso, disse também que a homofobia seria uma forma de corrigir um erro e/ou uma suposta perda de gênero. 
Com isso posto, algumas pessoas questionaram as determinações sobre os gêneros que é feito pela sociedade. Discutimos também a naturalização que é posta pelos heterosseuais. A aluna Taliene falou sobre o preconceito existente entre homens e homesseuxais, disse também que seu namorado se recusa a frequentar um banheiro com um homessexual. Diante desse relato Roney disse que existem muitos mitos sobre os homessexuais e que isso precisa ser desconstruído,  não generalizando os casos e fatos, por exemplo,  pois por causa desses mitos as pessoas perdem a oportunidade de se relacionarem.  
Após esse debate o professor Roney retomou as ideias do texto a importância das ondas feministas. Destacou também que os movimentos da década de 60 além de políticos tinham um caráter intelectual. O termo “gênero” foi muito além da discussão política e inicou-se a discussão na área acadêmica e com tais movimentos a ciência da neutralidade foi quebrada. O professor destacou que nós acreditamos muito em o que é científico, mas que estamos, na disciplina mencionada, começando a problematizar e questionar algumas coisas. Fora isso, o professor disse que precisamos problematizar o que está posto na sociedade e como os fatos se constrói hoje, por exemplo, sobre o papel da mulher e do homem. Também falou que a partir da origem do termo “gênero” o movimento feminista teve grandes conquistas, principalmente porque o termo passou a ser uma ferramenta para discutir as imposições postas na época e também na atualidade. 
Roney mencionou que algumas características femininas e masculinas são construídas ao longo dos tempos pela sociedade. Diante disso, duas alunas disseram que tem filhas que possuem características masculinas e que por causa disso sofrem de alguns preconceitos. Zaime relatou que leu em uma revista uma reportagem em que dizia que em um outro País é natural que os homens sejam meigos, delicados e românticos e as mulheres concebidas como fortes, valentes e chefes de famílias. A turma estranhou o depoimento de Zaime e a partir do relato fomos convidadas a refletir sobre as características em que os gêneros assumem na sociedade. Roney disse que somos nós que atribuímos as características dos gêneros nas pessoas e com isso questionou: como essas lógicas estão presentes no nosso cotidiano e como lidamos com isso? Vanessa disse que tais indagações vai ao encontro do que a autora do texto da aula anterior coloca como “pedagogia culturais”. E novamente Roney  fez um questionamento à turma: a heterossexualidade não é estudada e como é então que nos tornamos héteros?
Relacionado ao tema discutimos qual seria a função/papel da escola diante de tantas problemáticas. Concluímos que o papel da escola, junto à família, igreja e toda a sociedade é o de problematizar o que está definido como o correto e cientifico. Fora isso, tais instituições devem proporcionar momentos de reflexão que façam com que o gênero seja percebido como uma constituição corporal, social e cultural. Para complementar a discussão tecida, algumas alunas falaram sobre a cirurgia que alguns homossexuais realizam ao assumir sua sexualidade. Sobre isso tais alunas falaram que nem sempre a cirurgia marca a transformação de gênero e sexualidade dos indivíduos, pois essa transformação ocorre antes do sujeito resolver passar pela cirurgia.
Ainda voltado as diferenças de gênero e sexualidade houve na sala um relato que deixou algumas pessoas assustadas, a aluna Rita falou sobre o preconceito em que seu filho, homessexual, gordo e judeu passou ao se inserir em um curso na Universidade Federal Fluminense. Diante disso, algumas pessoas falaram suas posições sobre a prática do trote e principalmente a humilhação dos direitos humanos comuns a todos os cidadãos.
Após o intervalo, na segunda parte da aula, o professor perguntou à turma quais são as reivindicações dos movimentos feministas. Rita e Carolina Gasparete falaram que atualmente as reinvidicações estão circunscritas a “Igualdade salarial; direito ao aborto, reconhecimento social; direito econômico; reprodutividade; redução da miséria e pobreza e outros”. O professor fez com a turma um teste sobre “Você é feminista”? Tratava se questões relacionadas ao tema e que no fim se a maioria das respostas fossem positivas a pessoa que fez o teste poderia se considerar uma feminista. Após o fim da leitura do teste, a turma comentou sobre alguns apontamentos e incômodos que ficaram mediante as questões apontadas no teste do site de Cyntia Semíramis, sob o título de  “O direito das mulheres”.
Em seguida, o mestrando Felipe exemplificou com imagens o que muito das fotos e cartazes da “Marcha das vadias” trazem as reivindicações do movimento, em especial no movimento que ocorreu na cidade de Belo Horizonte. O mestrando também informou que haverá na cidade de Juiz de Fora uma marcha das vadias, ele aproveitou o momento e nos convidou a participar das manifestações. Que ocorrerão no dia seis de julho. Por fim, Roney expôs e problematizou algumas fotos da página do facebook “Moça, você é machista”, onde a rede social discute por meio de figuras o feminismo de encontro ao machismo. É necessário ressaltar que as imagens da página mostram preconceitos sobre a superioridade do homem relacionado a mulher; a função apenas doméstica da mulher; ao instinto materno que deveria ser de todas as mulheres e outros. Depois de horas repletas de discussões demos por encerrada mais uma aula da disciplina de “Gênero, Sexualidade e Educação’. Porém, sabemos que nossas indagações, reflexões e questionamentos continuam ao longo dos dias e da vida. Afinal, as questões que perpassam a disciplina mencionada são questões que englobam o meio cultural e social.

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Registro da aula do dia 20 de maio de 2013

Inicialmente, Vanessa e Thayane, a dupla responsável por discutir e apresentar o texto “Gênero e Educação: teoria política” da autora Dagmar Estermann Meyer, apresentaram-se e expuseram algumas imagens sobre a naturalização da sexualidade.

A partir disso discutimos sobre a distinção que é feita na escola, na família, na sociedade, a respeito da caracterização do "feminino" e do "masculino" como, por exemplo, o homem ser visto como um ser superior em relação à mulher, refletindo em ‘ditados’ como dirigir bem ser “coisa de homem e não de mulher".

Outro ponto que foi levantado e debatido foi a respeito do incômodo que causa o “diferente”. A aluna Thayane destaca que o texto aborda que a diferença está posta, a relação de inferiorização, o que implica em várias questões, refletindo no cotidiano e nos direitos.

Durante a apresentação alguns pontos foram levantados pela turma e pela dupla, como o olhar questionador que devemos ter diante de programas televisivos que expõem situações como brincadeiras ou objetos a serem destinados a, apenas, menino ou menina. A partir de então pensamos quais são as relações que interferem nas nossas decisões.

O professor Roney aponta para o fato de que por traz da brincadeira entre meninos e meninas existem duas visões, uma é que se a menina brincar com menino ela pode se machucar, há uma questão de fragilidade, cuidado e proteção; a segunda, é a visão de que o menino pode vir a se tornar ‘aquilo’ que não se quer ser, “não sou mulher, não sou gay”, portanto não deve se misturar, pois há uma associação do homem com a feminilidade. Houve nesse momento a problematização de por que o menino não pode brincar de boneca, o que nos levou a concluir que isto é uma invenção da sociedade e da cultura que estamos inseridos.

Existe uma imposição e marca dos lugares, numa relação de poder.

Após esse debate inicial, a dupla fez uma apresentação do texto em si.

O professor acentuou alguns pontos do texto, entre eles o de que o gênero não está desvinculado de outras categorias, e sim perpassa por outros segmentos, como o social. Frisou  também a existência de diferentes frentes feministas, defendendo diversos interesses.

Nos alertou sobre a maneira como nos constituímos homem ou mulher, destacando que é uma concepção, pois existem muitos modos de viver a feminilidade ou masculinidade, o que é construído, portanto, em diferentes tempos, espaços e sociedades.

Destacou ainda o conceito de gênero visto como uma ferramenta que permite entrar em vários atravessamentos. Roney disse que não podemos cair na armadilha e esquecer as questões biológicas, o que permite dizer certas coisas é o fato de estarmos inseridos numa cultura. Muitas pesquisas científicas acentuam as ‘diferenças’, e normalmente aceitamos as estatísticas, entretanto, devemos tomar cuidado com os dados e pensarmos em como podemos problematizar as questões.

Sobre as pedagogias culturais o professor chamou a atenção para o gênero, disse ser um intenso aprendizado sócio-cultural, e enfatizou os múltiplos ensinamentos que são transmitidos por diversas instâncias do sócio-cultural, que não só a escola e a família.

Tudo nos ensina muito e nos constitui, deve-se levar a discussão para além da escola, o processo no qual aprendemos tudo é sútil e por ser sútil funciona e nos subjetiva, nos constitui como sujeitos, pois estamos envolvidos.

A escola deve ser portanto um espaço de diálogo, um ponto de partida, daí a importância do ato questionador.

Vanessa e Thayane observaram as quatro implicações existentes no modo de teorizar o gênero, sendo elas: as relações de poder, sociais, de linguagem e culturais.

Após perguntar à turma qual a principal mudança no conceito de gênero trazido pelo texto, o professor esclareceu que o conceito de gênero era pautado na biologia, nas desigualdades, sendo que em algumas culturas era algo problemático, como na Índia, na China, tudo se justificava pela biologia.

O texto nos mostrou que o conceito de gênero transporta para o cultural e social como uma ferramenta analítica para a luta dos direitos, inclusive a educação, há então uma construção social da masculinidade e da feminilidade. Para além do exercício de papéis, pensar como o gênero constitui a sociedade, como a escola investe na questão do gênero, a escola deve ter o entendimento de que a discussão é importante.

Após as considerações do docente, a dupla leu uma entrevista com o funkeiro Mr. Catra, o que gerou polêmica na sala.

Debatemos, a partir disso, o incômodo que as falas do cantor nos provocou.

Roney destacou como a sociedade trata essas questões como curiosas, e não como problemáticas. Como que não nos colocamos e aceitamos o que é dito com parcialidade.

A sociedade na qual esse cantor está inserido permite que ele fale e que ele se coloque dessa forma. O machismo está colocado na sociedade. As mulheres estão subjetivadas pelo mesmo sistema dos homens , daí a importância de se fazer discussões na escola. Para além da educação familiar, outras “coisas” nos constituem.

É necessário analisar a sociedade, e pensar o que possibilita a ocorrência de algumas falas, como a do Catra.  Ao problematizar, estaremos nos envolvendo em algumas brigas. Devemos desmontar aquilo que nos subjetiva.

No segundo momento da aula o professor trouxe a reportagem “O funk é feminista” da revista Super Interessante (maio de 2012), de autoria da jornalista Carla Rodrigues. A partir da leitura foi proposto um debate com a turma a respeito do que se pôde ver como positivo e negativo, relacionando com o que foi tratado até então.

Com isso, destacamos pontos como inovação, liberdade, quebra de paradigma e de padrão, uma vez que o funk dá vozes, por vezes, a mulheres negras, que vivem nas favelas, e não se prendem a padrões de beleza para se sentirem bonitas e a vontade para dançarem e se exibirem. Por outro lado os pontos destacados foram a respeito de que, ao escreverem as letras, não é traçada nenhuma reflexão que se pense no movimento feminista em si, e sim uma coincidência que se pode perceber ao ser lida na perspectiva feminista.

Também foi digno de nota a problemática encontrada na reportagem, quando a autora polariza a questão dizendo que não precisa de teoria para entender as reivindicações expostas nas letras, como se isso fosse natural em outros lugares, e não uma discussão por valores instituídos que levam tempo para se desconstruir.

Para debatermos essa situação utilizamos algumas letras de funk que nos permitiram visualizar tais pontos negativos e positivos que são trazidos nas letras, tendo como apoio uma reportagem noticiada no jornal do SBT a respeito de um trabalho de mestrado que tinha como propósito analisar letras de funk na perspectiva feminista. Além de visualizarmos a questão proposta, pudemos destacar, também, a revolta com que a apresentadora do jornal tratou o caso, com desmerecimento e desvalorização diante da academia. Tivemos ainda a oportunidade de ler a resposta da mestranda à repórter, explicando a ela o verdadeiro objetivo do estudo, além de alguns termos que se fizeram desentendidos por parte da repórter.

Diante dessas ricas informações oportunizamos nossos olhares a ver até que ponto tais questões podem ser generalizadas, uma vez que em algumas letras são retratadas situações de nosso dia-a-dia, que, em outros estilos de música são falados implicitamente, porém veiculadas com mais respeito pela sociedade.

Registro realizado pelas alunas Alice e Aline

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