Guacira Lopes começa seu texto “A construção escolar das diferenças” discutindo um dos pontos principais: a escola produz as diferenças, desigualdades e distinções. A escola faz isso através de mecanismos de classificação, ordenamento e hierarquização.
A escola inicialmente era concebida para acolher somente algumas pessoas, e com o tempo foi sendo requisitada por aqueles aos quais havia sido negada, e estes foram trazendo transformações à instituição. A autora toma como ponto de partida pensarmos como a escola produz essas diferenças e que efeitos elas têm sobre os sujeitos.
A escola além de produzir as diferenças, ela também delimita espaços e o que cada um pode ou não pode fazer. Dentro de uma escola é preciso que os sentidos estejam afiados para que possamos ser capazes de ver, ouvir, sentir as múltiplas formas de constituição dos sujeitos implicadas na concepção, na organização e no dia a dia da escola. O olhar de cada um é diferente, e o modo como o espaço é concebido por todos também.
Guacira Lopes vai expor em seu texto que tempo e espaço foram aprendidos e interiorizados com o tempo, e assim eles se tonam naturais, o que nos impede de olhar e notar que cada um se agrupa de forma diferente. As divisões de raça, classe, etnia, sexualidade e gênero são explicadas pela história.
Na escola todos os sentidos são treinados. Se aprende a olhar e a se olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar, se aprende a preferir, e todas essas lições são atravessadas pelas diferenças, elas confirmam e também produzem as diferenças. Os sujeitos se envolvem e são envolvidos nessa aprendizagem. A escola também produz corpos escolarizados e distinguem estes corpos.
O processo de “fabricação” dos sujeitos é continuado e geralmente tão sutil, que se torna quase imperceptível. Nosso olhar deve então se voltar para as práticas do cotidiano, onde se pode perceber. A tarefa mais urgente é: desconfiar do que é tomado como “natural”. Também é importante ficarmos atentos as nossas próprias falas, e sermos capazes de um olhar mais aberto, de uma problematização mais ampla (que consiga lidar com as múltiplas combinações de gênero, sexualidade, classe, raça, etnia).
A linguagem é a forma mais eficaz onde se pode observar a instituição das distinções e das desigualdades. No entanto, a linguagem além de expressar relações, poderes, lugares, ela os institui: não apenas veicula, mas produz, pretende fixar as diferenças e demarca lugares dos gêneros. O “silenciar” algumas coisas é uma espécie de garantia da “norma”.
A ideia de que as mulheres são, fisicamente, menos capazes do que os homens possivelmente ainda é aceita. Concepções como essa vêm impedindo que seja proposta às meninas a realização de jogos ou atividades físicas tidos como masculinos, o que se consagra a ideia que o feminino é um desvio construído a partir do masculino. Além disso, todos que não se enquadrem dentro da lógica dos universos feminino e masculino como sendo opostos, ou não são percebidos ou são trados como problemas e desvios.
A autora trás também para seu texto que o contato com o outro na escola, tanto pode abalar e reduzir o sentido da diferença como pode, ao contrário, fortalecer as distinções e os limites. Temos que saber claramente os conceitos de gênero e sexualidade, sem nos prendermos ao senso comum. A sexualidade está na escola porque ela faz parte dos sujeitos, ela não é algo que possa ser desligado. Todas as formas de sexualidade são construídas e legítimas, mas não há dúvidas de que o que é proposto pela escola é a constituição de sujeitos masculinos e femininos heterossexuais.
É preciso mais do que tudo descontruir o que se aprende sobre a homossexualidade, desconstruir a ideia da homossexualidade como desvio, patologia e formas não-naturais e ilegais de sexualidade. Precisamos não só ter um olhar diferente dentro da escola, como também tentar interferir na continuidade dessas desigualdades, e para isso é necessário reconhecer as formas de instituição das desigualdades sociais.